Resenhas

The Basement Tracks – Rave On

Disco de estreia de grupo mineiro traz boas referências da psicodelia com encanto Shoegaze mineiro

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Ano: 2018
Selo: Independente
# Faixas: 9
Estilos: Dream Pop, Ambient Pop, Psicodelia
Nota: 3.5
Produção: Victor Fonseca e Basement Tracks

Que a Psicodelia já é parte integrante da música brasileira e que ela vem se desenvolvendo de formas cada vez mais inventivas, nós já sabemos. O que é interessante notar é como a característica versátil e camaleônica do nosso som produz uma psicodelia vasta única e versátil, desde a fritação de Boogarins até a mansuetude de Mahmed. Neste emaranhado de grupos, o mineiro The Basement Tracks vem com um potente disco de estreia, não negando suas referências fortes do Shoegaze e colocando um tempero que só os mineiros conseguem.

Com um interessante EP em sua discografia, o grupo já vem estudando as possibilidades da psicodelia há algum tempo e, por isso, Rave On não é um disco produzido por amadores. Por mais que possamos nos sentir inclinados a tecer comparações com Slowdive ou Tame Impala, é imprescindível deixar claro que o registro tem um encanto muito além dos estereótipos e é justamente aí onde sua veia mineira entra em ação. Parece que, das montanhas de Minas Gerais, surge uma aura misteriosa e grandiosa que envolve boa parte das composições. Os reverbs amplos não poupam esforços para que a trip durante o disco seja reforçada, mas é como se dentre um delay e um sintetizador houvesse alguma entidade que impulsiona o delírio. Outra característica marcante da sonoridade dos mineiros é a suavidade de sua viagem, evitando excessos e tentando deixar as coisas o mais orgânico possível.

Sunkissed nos introduz ao mundo de Rave On com uma repetitivo arranjo que nos hipnotiza aos poucos, até que estejamos totalmente aptos e adentrar mais fundo no disco. Going Back, um pouco mais potente, brinca com a sedução de vocais aéreos em meio a reverbs envolventes e alguns barulhos que instigam a curiosidade do ouvinte. These Are Interactions Between Galaxies é quase uma faixa Ambient, construída a partir de linhas de sintetizadores etéreos e solos caprichados em tremolos e phasers. Melody é um pouco mais Pop, insistindo na leveza dos elementos mas proporcionando uma viagem igualmente intensa. Para encerrar, Cycle, talvez a mais lisérgica das dez faixas, proporciona um paradoxo curioso, à medida que coloca, em menos de dois minutos, vocais sofridos com sintetizadores exuberantes.

Rave On pode se apoiar em ótimas referências do Dream Pop e Shoegaze, mas certamente tem seu encanto. É um disco que certamente agradará fãs da nova psicodelia brasileira, bem como apreciadores de trabalhos bem feitos e que instigam novas audições, cada vez mais meticulosas e atentas. Um disco com vida própria.

(Rave On em uma faixa: Melody)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique