Resenhas

Eleanor Friedberger – Rebound

Artista fala sobre desencontros em álbum rico de referências

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Ano: 2018
Selo: Frenchkiss
# Faixas: 10
Estilos: Singer-Songwriter, Dream Pop, Electro Pop
Duração: 40
Nota: 4.0
Produção: Celemns Knieper

Eleanor Friedberger escreve em sentenças claras, honestas e usa os adjetivos na medida certa. O tema de suas canções, no entanto, falam de erros de comunicação, desencontros e ausências. Esse sentimento, o de encarar de olhos bem abertos a vida, mas ainda assim perder o mistério que percorre as veias da existência, parece ser o mote de Rebound, o quarto trabalho da artista.

Em geral, usa-se a expressão “manter-se a um braço de distância” como metáfora para a atitude uma pessoa que toca no assunto que a interessa enquanto, apesar disso, mantém desse uma margem segura de distância. É um gesto antagônico: estar em contato é, ao mesmo tempo, afastar.

A compositora greco-americana usa esse distanciamento crítico como força criativa. Friedberger viveu um mês na Grécia, frequentou sua vida noturna, e nadou em suas praias paradisíacas. O nome do álbum, aliás, vem de uma balada local. As citações a essa geografia vem com um olhar romântico, que evoca o clima mediterrâneo, os ornamentos coloridos e uma cafonice nostálgica do Europop. Quando fala dos EUA, por sua vez, sobressaem citações irônicas, caso, por exemplo, da devoção à banda ZZ Top que se encontra no Texas. Em Rebound – palavra que, entre outras traduções, pode ser entendida como recuar, repercutir ou ressoar – Friedberg fala de Jesus, experimenta o Reiki, viaja pelo mundo, mas não acha a resposta que procura: é, portanto, uma narrativa poética de algo inerentemente humano, uma crise existencial de quem procura uma unidade, uma religação com a vida.

Rebound tira sua força exatamente daí – embora esse “aí” seja justamente uma confluência de lugares, visões e sensações. A produção faz lembrar um pouco Cate Le Bon, um pouco Laurie Anderson, um pouco Joni Mitchell. Há uma aura dos anos 80, que assume formas Dream Pop, Electro Rock e Power Pop, como quem viveu a época, mas não se lembra muito bem. Seja como for, este talvez seja o exemplo mais rico dentro da discografia da artista, o de alguém que encontra sua força criativa justamente ao não se encontrar em lugar nenhum.

(Rebound em uma música: In Between Stars)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte