Resenhas

Paes – Mundo Moderno

Segundo disco traz aventura densa entre reflexões impiedosas sobre a contemporaneidade

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Ano: 2018
Selo: Abismmo
# Faixas: 10
Estilos: Folk Rock, Neo Psicodélico, Chillwave
Duração: 38:56
Nota: 4.5
Produção: Arthur Dossa

Escrever sobre a contemporaneidade é uma tarefa cada vez mais complexa. Com tentativa de autores como Bauman e grupos como The Strokes, é difícil compreender os aspectos das relações de hoje principalmente pela velocidade na qual elas se modificam. Ou seja, os sistemas são criados mais rápidos do que podemos nomeá-los, configurando uma verdadeira corrida contra o tempo.

Entretanto, não faltam guerreiros para tentar completar esta tarefa, e é justamente aí que se insere o projeto do pernambucano Paes. Em sua primeira empreitada, a “vontade de lançar um disco” falava mais alto, o que o levou a produzir Sem Despedida (2013), um registro inocente que relava uma sonoridade potente e envolta de lisergia. Cinco anos depois, a proposta agora é outra e a investigação toma rumos mais sérios e densos.

O objeto de estudo de seu segundo disco é claro, e seu título deixa poucas margens de interpretações. Mundo Moderno é uma investigação corajosa em relação ao contemporâneo e toda o seu labirinto de significados. A pluralidade de gêneros é uma das principais ferramentas em sua construção que procura evidenciar justamente este aspecto multisemântico das relações do nosso tempo.

E não apenas em seus arranjos e timbres esta intenção está presente, mas também na própria mixagem do disco, que ora procura deixar mais evidentes tons vintages, ora renuncia ao estereótipo Lo-fi e se compõe cenários em alta fidelidade, quase como no mais recente álbum de Tame Impala, Currents. Nesse sentido, a música Psicodélica vem muito a calhar, à medida que permite que o ouvinte consiga criar percursos entre suas sonoridades, da mesma forma que tentamos sobreviver nas estruturas do mundo moderno.

Os experimentos entre gêneros musicais já ficam claros nas primeiras faixas do disco, contando com um Blues torto e melancólico (Ossos do Ofício) e uma marcha militar que logo revela um aspecto Chillwave marcante com pads envolventes (Transmutação). Flying Cloud é um lamento quase em tons de Òpera que logo cede espaço para um Rock Psicodélico clássico, discorrendo sobre um existencialismo errante típico da modernidade. Já Ouçam é uma belíssima balada que nos entrega um pingo de esperança em meio ao caos e a lisergia vigente até então. Mais agressiva e com timbres que lembram a fase Humbug, de Arctic Monkeys, Homem Pássaro é um grito de socorro para fora do labirinto que logo é atendido com a final e derradeira balada Camila.

Construído de forma a captar uma boa parte do espírito moderno de caos e de crises existenciais constantes, Mundo Moderno produz significados tanto em concordância como discordância. Dessa forma, o resultado é um disco que une as faixas por um conceito claro, mas também evidencia a particularidade de cada uma delas. Um disco de uma homogeneidade heterogênea que destrincha as entranhas da contemporaneidade.

(Mundo Moderno em uma faixa: Transmutação)

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BOM PARA QUEM OUVE: Mannequin Trees, Morfina, Mombojó
ARTISTA: Paes

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique