Resenhas

Juliano Gauche – Afastamento

Último disco da trilogia revela as melhores características da obra do compositor capixaba

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Ano: 2018
Selo: EAEO Records
# Faixas: 8
Estilos: Pós-MPB, Eletrônico, Folk
Duração: 31:17
Nota: 3.5
Produção: Juliano Gauche e Fernando Catatau

Quando o compositor capixaba Juliano Gauche se associou ao termo “gauche”, ele sabia exatamente o que estava fazendo. Drummond já utilizara o termo em sua poesia, mas Juliano parece ter pego a essência profunda do termo cujo significado transita entre o torto, estranho e desajeitado.

Todo este apreço começou em 2013 com seu primeiro e autointiulado disco de estreia, um mergulho gélido sobre suas percepções melancólicas envoltos de uma sensibilidade crua. Depois, em 2016, Nas Estâncias de Dzyan ampliou ainda mas este oceano frio, conferindo-lhe grandeza ao mesmo tempo que desespero de nos jogar perdidos em um ambiente tão inóspito. Agora, chegamos no capítulo final desta trilogia, um que encerra uma relação intrínseca com a melancolia, mas também deixa lá no fundo (bem no fundo mesmo) uma leve chama de esperança.

Afastamento carrega uma imensa responsabilidade de terminar um projeto que percorre um intervalo de tempo relativamente extenso. De cinco anos para cá muito mudou, e sentimos isso na sonoridade e produção do disco, assinada pelo próprio músico e Fernando Catatau (Cidadão Instigado). Há ainda os timbres frios e os acordes tristes característicos de seus arranjos passado, potencializados por uma voz frágil que nos convida sutilmente a provar desde amargo universo. Contudo, a parte Eletrônica se desdobra de forma mais precisa, como se cada batida, sintetizador fosse pontual, tal como agulhas que potencializam aquilo que Juliano planejou para este disco.

A tensão é estabelecida nos primeiros minutos do disco com Sillmar Saraiva, uma crônica psicológica sobre uma personagem dúbia. Longe, Enfim sugere ao fundo uma batida mais dançante que se revela aos poucos ser uma batida bate estaca que a cada golpe se revela mais profundo o corte. Dos Dois começa a revelar um lado otimista em um belíssimo arranjo de cordas que deixa de lado a melancolia para instaurar em nossos corações uma chama leve de esperança. Mais Pop, Tem Dia Que É Demais é sustentada por um pad constante com intervenções distorcidas e riffs funky. Por fim, Dos Cachorros Sisudos encerra este caminho com uma composição que a divisão entre o Pop e um Rock Progressivo desconstruído.

Com Afastamento, Juliano Gauche nos mostra que é ardiloso em sua estratégia. Nos fornece um ambiente hostil que sugere uma esperança, mas a coloca na segunda metade do disco, como se tivéssemos que batalhar para alcançá-la. Assim, o compositor constrói o único desfecho possível para sua trilogia: melancólica e esperançosa.

*(Afastamento em uma faixa: Dos Dois)**

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BOM PARA QUEM OUVE: banda-fôrra, Dingo Bells, Mombojó
MARCADORES: Eletrônico, Folk, Pós-MPB

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique