Resenhas

Nine Inch Nails – Bad Witch

Célebre banda retoma sua relevância, ainda que dentro de sua zona de conforto

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Ano: 2018
Selo: The Null Corporation/Capitol
# Faixas: 6
Estilos: Industrial, Eletônico
Duração: 30:14
Nota: 3.5
Produção: Trent Reznor e Atticus Ross

Qualquer entusiasta ávido de Nine Inch Nails sabe que encarar sua discografia é desvendar um labirinto sem solução. Não que isso signifique que sua obra é construída de forma aleatória e sem sentido. Muito pelo contrário. Seus discos, elementos e mitologia em torno do inóspito e caótico universo criado é pensado de tal maneira que, para compreendê-lo de uma forma plena, seria necessário ao menos um doutorado.

Entre trilogias sem fim, discos conectados entre si e um sistema de numeração denominado Halo que percorre toda a discografia do grupo, Nine Inch Nails é um projeto cuja audição nos faz sentir parte de algo maior. Agora, depois de cinco anos de seu último trabalho Hesitation Marks, o grupo nos apresenta um disco que parece juntar todo este emaranhado de sistemas de trinta anos de carreira.

Originalmente, este Bad Witch seria o fim da trilogia de EPs lançados nos últimos anos, mas Trent Reznor preferiu lançá-lo como algo à parte, posto que o último capítulo da trilogia seria de um processo de composição extremamente automático, algo que os integrantes são completamente contra. Assim, entendemos um pouco melhor o porquê do disco assumir em seus arranjos uma sonoridade quase que cinematográfica. Seria muita injustiça limitá-lo a uma parte de algo, sendo ele por si só um universo completo é bastante diverso.

Há muita influência de David Bowie, segundo Trent, e, apesar de relativamente curto, o disco consegue pintar cenários muito ricos com esta oposição constante do Industrial (batidas eletrônicas e glitches) e Natural (elementos acústicos como instrumentos de sopro e cordas). Shit Mirror é aquele típico Rock agressivo e distorcido que destacou o grupo na década de 1990. Over and Out revela uma influência de Aphex Twin, somando saxofones quentes e reverberados em uma espécie de Chillwave do limbo. Apostando no experimentalismo típico, I’m Not From This World brinca com texturas ásperas e barulhos aterrorizantes no melhor estilo caótico contemporâneo.

Bad Witch traz mais mistério para a discografia do grupo, mas certamente a preenche de uma forma instigante e que pede de nós atenção. É certamente fascinante como um grupo consegue permanecer tanto tempo dentro de sua zona de conforto e produzir discos tão interessantes. Um álbum de contrastes e para se perder totalmente.

(Bad WItch em uma faixa: Over And Out)

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BOM PARA QUEM OUVE: Tweaker, Ministry, Puscifer
MARCADORES: Eletrônico, Industrial

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique