Resenhas

Johnny Fox – More or Less

Irlandês residente em São Paulo continua suas experimentações entre timbres e harmonias em um trabalho onírico e muito agradável

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Ano: 2012
Selo: Independente
# Faixas: 3
Estilos: Indie Folk, Rock Experimental
Duração: 16:40
Nota: 4.0
Produção: Johnny Fox

Eu estava no show em que Johnny Fox anunciou que talvez lançaria seu More or Less no dia seguinte. Sim, dessa forma. Disse que acordaria, ouviria as músicas novamentes e, daí, talvez o colocaria na Web – o que de fato aconteceu na manhã de 8 de outubro. Porém, esse aparente descompromisso esconde o tamanho capricho que ronda cada uma das três faixas do EP.

Ele parece começar justamente por seu fim, com Static. Com harmonias vocais oníricas com cara de experimentalismo, o músico irlandês residente em São Paulo nos mostra de imediato o quanto é desinteressante tentar classificar seu som, melhor sendo qualificá-lo em uma avaliação mais do que positiva. A faixa de abertura tem início e encerramento quase em silêncio, com apenas alguns ruídos, variando pouco seu tom ao longo de seus quatro minutos de música muito bem acompanhados de guitarra.

Ela dá espaço à “radioheadnesca” All Those Ugly Things, na qual Fox soa mesmo como o Thom Yorke de músicas como Lucky e Pyramid Song, emocional, perturbado e inventivo. Aquele tipo de interpretação que tanto me faz admirar esses artistas de regiões insulares europeias. Ao vivo, o músico sente e exala cada palavra e nota de suas composições ou de outros bons artistas que admira (já o vi tocando Camelo e Caetano em diferentes ocasiões) e, obviamente, isso fica também impresso em suas gravações.

Essa faixa do meio soa arrastada, cansada, quase rastejando contra o vento por mais de cinco minutos. É daí que vem Laughing Stock com seu violão inicial e uma aparente ambientação mais simples que nas outras. Parece mesmo uma canção que abriria um bom disco, mas sua função aqui é a oposta. Conforme o tempo avança, a música ganha corpo e ainda mais alma e a impressão que fica é a de que algo está prestes a começar assim que o disco termina. Talvez ele tenha sido feito para crescer no silêncio da memória mais do que durante sua reprodução.

Como cada faixa é mais longa que a anterior, a sensação é a de uma perspectiva forçada às avessas, com um fim prolongado muito mais dinâmico que a monotonia (no sentido literal, não pejorativo, do termo) que predomina na primeira canção, como se o EP terminasse logo apesar da duração crescente. É brincando com esses valores (como indica o “mais ou menos” do título) que Johnny Fox consegue se manter como um interessante nome de uma cena independente de dupla-nacionalidade em um trabalho de qualidade de pouco mais de 15 minutos que vale por uma hora inteira ou mais.

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BOM PARA QUEM OUVE: Radiohead, Grizzly Bear, Bon Iver
ARTISTA: Johnny Fox

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.