Resenhas

Garbo – jovens inseguros vivendo no futuro

Disco de estreia do produtor Gabriel Soares traz um retrato vívido e curioso da juventude em pleno século 21

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Ano: 2018
Selo: Independente
# Faixas: 12
Estilos: Pop, Chillhop
Duração: 34:16
Nota: 4.0
Produção: Garbo

Foi atribuído aos jovens um peso intenso com relação ao futuro. Ao mesmo tempo em que são responsáveis por consertar os erros de gerações passadas, também são frequentemente apontados como destruidores de tradições e considerados supérfluos. São salvadores e arruinadores. Anjos e demônios em um mesmo corpo. Com tudo isso depositado em suas costas, fica fácil entender por que a insegurança e ansiedade cresceram a taxas alarmantes nos últimos dez anos e, se há alguém que pode contar como é ser um jovem em tempos de informações velozes e volatilidades sentimentais, este alguém é o jovem *Garbo.

Vindo de uma tradição clara de influências Pop e se especializando em uma faceta mais obscura do gênero, Gabriel Soares parece ter utilizado o nome Garbo como uma persona que expressa aquilo que lhe é caro e terno em sua juventude, mesmo que para isso ele se utilize de uma irônica batida dançante. Cristal, seu tímido EP lançado no ano passado botou no mundo uma visão curiosa e bastante pessoal do que significa ser um jovem em um século de tantas mudanças e posicionamentos cada vez mais extremos. Agora, um ano depois, Gabriel explora mais fundo suas sonoridades e vivências nos entregando um disco de estreia que pode parecer ingênuo em uma primeira escutada, mas revela um doce sentimento que nos é tão nostálgico quanto inédito.

O foco central de jovens inseguros vivendo no futuro são as contradições construídas com muito cuidado, e isto é presente tanto na sonoridade quanto na própria temática. Sonoramente, este álbum soa de forma semelhante ao seu EP prévio, naquela faixa estreita entre a melancolia e a celebração que artistas como Lorde e Banks tão bem exploram em seus registros. Sensações aparentemente tão antagônicas caminham juntas e Gabriel toma todas as precauções para que nenhum ingrediente desta receita se sobreponha demasiadamente, a fim de que nosso ouvido sempre fique em constante dúvida (é um disco para dançar ou contemplar?).

Liricamente, o álbum também é construído de forma a produzir forças aparentemente distintas mas, que na verdade tem uma natureza comum. Há momentos em que Garbo exala um romantismo forte, daqueles de paixões ingênuas e picos de taquicardia. Entretanto, o jovem compositor e produtor não nos deixa provar muito desse doce sentimento, à medida que põe logo em seguida flashes de perdas e pessimismo diante do mundo, demonstrados em seus vocais frágeis e que abusam do autotune como uma forma de esconder isso. Assim, o que poderia parecer uma falta de unidade conceitual é na verdade o que faz do disco de estreia de Garbo tão único. É justamente essa contradição que exemplifica a juventude do século 21. Tão repleta de contradições que, ironicamente, fazem completo sentido dentro deste contexto pessoal.

Desta forma, Garbo produz uma obra essencial e que mostra uma perspectiva que às vezes é ignorada ao som de críticas e saudosismos exagerados por parte de pessoas mais velhas. Gabriel é corajoso em encarar esta realidade, e nós somos sortudos em poder degustar parte deste exercício. Parte do significado de ser um jovem inseguro vivendo no futuro.

(jovens inseguros vivendo no futuro em uma faixa: o meu lugar)

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BOM PARA QUEM OUVE: BANKS, Lorde, Purity Ring
ARTISTA: Garbo
MARCADORES: Chillhop, Ouça, Pop

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique