Resenhas

Travis Scott – ASTROWORLD

Rapper assume o papel de curador em novo álbum

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Ano: 2018
Selo: Grand Hustle, Epic, Cactus Jack
# Faixas: 17
Estilos: Rap, Hip Hop, Trap Rap
Duração: 58:33
Nota: 3.5
Produção: Mike Dean, Travis Scott, 30 Roc, Allen Ritter, B Wheezy, Bkorn, Cardo, Cubeatz, Felix Leone, FKi 1st, Frank Dukes, Gezin, Hit-Boy, J Beatzz, John Mayer, June James, London Cyr, MD, Murda Beatz, Nineteen85, OZ, Rogét Chahayed, Sevn Thomas (...)

Do legado que Kanye West vai deixar para o mundo da música, talvez uma das contribuições mais interessantes seja a consolidação da figura do artista-curador. Se a ideia preexiste a Yeezy, já que a música em certa medida sempre foi o resultado da colaboração entre compositor, intérprete e produtor ‒ ou ao menos de figuras mais ou menos equivalentes ‒, com certeza ela ganha importância após o método de trabalho do rapper. Mais do que elaborar suas próprias músicas, o foco está em reunir um time de gente competente para trabalhar em torno de um projeto só.

A ideia de curadoria dentro do Hip Hop, aliás, atinge um status especial neste final de década agora que ele parece se aproximar cada vez mais mais da arte contemporânea, interferindo diretamente na sua linguagem ‒ com muitos de seus artistas, inclusive, se aventurando no mundo da performance e afirmando o seu lugar dentro de museus.

Travis Scott comporta-se como um herdeiro direto de Kanye West nesse mundo. ASTROWORLD chega carregado de uma semântica que vai fazer o público reconhecê-lo como pronto para os palcos principais da indústria. A enorme quantidade das músicas, o flow, as interjeições (“skrrrt!”) e até a recente mania das letras maiúsculas nos títulos, completam uma checklist de um trabalho que, se é pouco original, nada deixa a desejar para a cartilha.

Seria paradoxal, até, perceber que a figura de Scott é praticamente esvaziada dentro do trabalho, aparecendo apenas em alguns dos seus piores momentos. O que sobrevive, e sobrevém, é o seu “selo de qualidade”, ou seja, a predominância do seu gosto por uma produção eletrônica, cósmica e colorida, embasada no Trap.

O pano de fundo do trabalho é interessante, já que este baseia-se no encerramento de um parque de diversões, o tal Astroworld, em Houston, a cidade do rapper. Com isso, Scott traz para a cena um tema social ‒ a privação do entretenimento para uma juventude já privada de muitos direitos fundamentais ‒, um motivo pelo qual rimar, mas, mais do que isso, uma atmosfera: a de um local abandonado, meio lúdico e meio fantasmagórico. E o clima corresponde exatamente a esse cenário de brinquedos coloridos e enferrujados.

As participações especiais contam com os figurões Drake, The Weeknd e Frank Ocean, com os produtores celebrados Kevin Parker e James Blake, com compositores que vão de John Mayer a Thundercat, além de uma novíssima geração do Rap como Gunna, Sheck Wes e Juice WRLD. O clima mantém-se mais ou menos o mesmo durante o decorrer das faixas, com diferentes graus de sucesso ‒ o que é perfeitamente natural para um playlist tão grande. Entre crises românticas e um pouco de agressividade gratuita de tom adulto-adolescentesco, se saem melhor aquelas que engatam o ritmo ao unir um clima de despretensão ao humor escrachado de teor sexual.

ASTROWORLD é o ponto mais alto, por enquanto, de uma discografia que só cresce em qualidade. O álbum nasce amparado por forças que já o fazem, de partida, consagrado ‒ seja pela ascensão do Trap Rap que domina premiações como o Grammy, seja pelo estilo curatorial de Kanye West, um dos artista mais influentes deste começo de século. Aqui, Travis Scott experimenta fazer aquilo que gosta, mesmo que sem grandes riscos, e parece entender cada vez melhor o que isso significa.

(ASTROWORLD em uma música: STOP TRYING TO BE GOD)

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BOM PARA QUEM OUVE: Migos, Kid Cudi, Kanye West
ARTISTA: Travis Scott
MARCADORES: Hip Hop, Rap, Trap Rap

Autor:

é músico e escreve sobre arte