Resenhas

Wasadog – Lure

Banda paulistana muda de nome e lança ótimo disco

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Ano: 2018
Selo: Independente
# Faixas: 9
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 33:41
Nota: 4.0

Ouvindo as canções de Lure, lembro do tempo em que as pessoas implicavam com bandas brasileiras cantando Rock em inglês. Gente que abominava os artistas que insistiam em cantar na linguagem original do estilo, a que se encaixa mais apropriadamente à sua dinâmica e seu significado. Talvez ninguém mais pense nisso, mas é importante notar o tanto de talento que esse pessoal paulistano exibe neste seu primeiro trabalho como Wasadog. Antes, eram The Moondogs e tornaram-se conhecidos pela participação no programa Superstar, da Globo, e por terem aberto shows de Jake Bugg no país, escolhidos pelo próprio, segundo consta. Todo esse passado parece ter ficado décadas para trás quando ouvimos Lure. E isso é ótimo.

As nove canções do álbum são diretas e retas. Seus arranjos se inserem na lógica do bom Rock 2018, que se divide entre o tributo aos anos 1970, seja pelo Punk, pelo Blues Rock ou por ambos, misturando o DNA de bandas no estilo de Led Zeppelin com a velocidade e o estilo de um Ramones ou algo no gênero. A essas linhas evolutivas, somam-se a urgência dos nossos tempos, a necessidade de atravessar fronteiras, conectar pessoas e conseguir filtrar informações nesse turbilhonamento que é 2018. E Wasadog tem essa manha, conseguindo soar precisa, barulhenta e vigorosa ao mesmo tempo. Não deve nada a gente gringa em atividade, lembrando bastante a versão 2013/14 de Arctic Monkeys, mas com uma certa malandragem indistinguível em meio ao barulho bom.

Além disso tudo, de parecer totalmente encaixada no momento atual do Rock, Wasadog tem ases no bolso do colete. Após o início corretíssimo com Back Up Closer, eles já surgem logo na segunda canção de Lure, a ótima Messin’ With Me, um Blues sussurrante, psicodélico e inesperado, que leva o ouvinte a passear por caminhos estranhos, como se estivesse num episódio obscuro de Breaking Bad ou algo no gênero. Em seguida vem outro espécime inclassificável: Where And When, que cria climax e os desfaz em seguida, numa dinâmica de tirar o fôlego do ouvinte, que fica esperando explosões que não acontecem. Por outro lado, I’m Willin’ tem um olhar gentil para a pista de dança, com guitarras harmoniosas e levada dolente.

Um certo espírito de Neil Young em sua fase blues oitentista assombra Momaway, enquanto Perfect On Purpose conjura ritmo e resposta numa massaroca de teclados e guitarras em disputa para sobressairem-se mais, desembocando na suingada e sensacional Sharpwire, malandra toda vida e na última canção, This Is Not The Last Time, que tem gene de Glam Rock em sua forma mais dançante e moderna.

Moderno, afiado, bem feito, bem gravado e com pinta de campeão. Este é Lure. Ouça, não vá perder.

(Lure em uma música: Sharpwire)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.