Resenhas

Alaska – Ninguém Vai Me Ouvir

Novo disco de banda paulistana traz angústia aliada a grandes epifanias

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Ano: 2018
Selo: Sagitta Records
# Faixas: 13
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 44:49
Nota: 3.5
Produção: João Milliet

A rotina é algo realmente angustiante e, não raro, ela é um objeto de inspiração para artistas diversos. Esse “botar para fora” às vezes propicia experiências igualmente aflitivas, construindo ambientes claustrofóbicos como reflexo do sufocante e repetitivo cotidiano. Entretanto, há cenários em que a expressão é diametralmente oposta a este sentimento, funcionando como um escape e grito para botar para fora aquilo que normalmente nos é restrito. É justamente nesta segunda categoria que o grupo paulistano Alaska se enquadra, transformando a melancolia exacerbada da metrópole em matéria prima. Se seu primeiro disco, Onda (2015), nos mostrou uma típica banda de Rock encaixada nos padrões do Alternativo, agora Alaska resolve tomar uma nova postura, propulsionando um voo alto em meio a suas referências já conhecidas.

Ninguém Vai Me Ouvir é uma coleção de ansiedades servindo de combustível para sucessivas epifanias. A partir do relato de membros da banda e de fãs também, o grupo teceu um grande compilado de experiências e tirou delas uma propulsão emotiva, fazendo com que o disco tenha uma ambiguidade latente: da mesma forma que traz alguma tristeza, também é bastante otimista. A evidente mudança de sonoridade do primeiro disco para este se mostra aliada ao tema, como se o grupo se libertasse daqueles padrões típicos do Rock e se sentisse livre para acrescentar novas texturas como sintetizadores, efeitos de voz, timbres psicodélicos, elementos da Ambient Music, entre outros. A angústia da rotina gera um processo de expansão e maturidade, e a ambição de seus integrantes é evidente.

Tudo Bem começa tímida, quase silenciosa, mas logo se quebra em uma explosão forte como um brado enfurecido sobre a situação contemporânea de incertezas. Já Até o Mundo Acabar é mais suave, como um voo pleno enquanto o mundo embaixo se acaba. Tem Que Ver Isso Aí tem um toque de Indie atual, em uma conexão entre The Neighborhood e Bolhazul, dançante e introspectiva. Susha é um mergulho em timbres reverberados, como o fundo do mar: escuro, misterioso e frio. S U a V V E trabalha com truques de edição e arranjos intimistas propiciando um alívio da hostilidade de outras faixas. ____vazio termina o trabalho com a mesma dinâmica de nos enganar com uma suavidade para depois explodir em um Rock epifânico.

Este é um registro que mostra clara maturidade em trabalhar com um mesmo universo só que de forma mais abrangente. Pode funcionar tanto como um bom disco para apresentar a banda a alguém desconhecedor, como um bom disco de Rock acessível a qualquer entusiasta do gênero. Um ótimo jeito de passar pelo teste do segundo disco.

(Ninguém Vai Me Ouvir em uma faixa: Tudo Bem)

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BOM PARA QUEM OUVE: Menores Atos, Bolhazul, The Neighborhood
ARTISTA: Alaska

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique