Resenhas

Wild Nothing – Indigo

Quarto álbum de banda de Dream Pop evoca o funcionamento da memória

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Ano: 2018
Selo: Captures Tracks
# Faixas: 10
Estilos: Dream Pop, Indie
Duração: 41
Nota: 3.5
Produção: Jack Tatum, Jorge Elbrecht

“O presente do passado é a memória”, diria Santo Agostinho. É mais ou menos essa linha de pensamento que Wild Nothing, banda estadunidense liderada por Jack Tatum parece seguir em Indigo, o quarto álbum completo de sua carreira. E não só porque o compositor parece lutar contra os contornos difusos de suas lembranças pessoais nas letras que preenchem este trabalho, em busca de um passado no qual a tecnologia não dominava a vida humana, mas também porque sua sonoridade, o Dream Pop, parece ver nas refrações aquáticas do reverb uma metáfora para o funcionamento da nostalgia. Mais do que isso, talvez, Indigo apoia-se nos momentos de sucesso do começo de sua carreira para tentar resgatar uma personalidade que fazia sentido em outro contexto.

A virada da primeira década deste novo século viu nascer e prosperar bandas como Beach Fossils, DIIV (uma spin off da anterior) e The Drums como representantes de um momento sonhador e melancólico da música Indie. Entre elas, Wild Nothing se sustentava como um pilar fundamental deste cenário. Após uma tentativa de mudar de ares em Life Of Pause, Tatum retorna para o território conhecido de seus anos dourados, aquele visto nos álbuns Gemini e Nocturne. O risco por aqui é que a poética de um “tempo passado” se torne um recurso desgastado e a nostalgia se torne um mero sistema de retroalimentação de sua força criativa.

É possível, portanto, que se você é um fã da banda ou do estilo, se encontre nesse impasse filosófico entre lamentar um passo atrás da banda e aquela sensação de segurança que se tem no reconhecimento de algo familiar. Os mesmos timbres, os mesmos temas, melodias muito semelhantes daquelas já trabalhados por Tatum e seus pares ecoam por aqui – ouça a faixa de abertura Letting Go em comparação a Out of Mind, a abertura de Is The Is Are. Indigo será capaz de emular o funcionamento da memória, para o bem e para o mal: por um lado, revira as angústias de uma pessoa que procura dentro de si os momentos que foram capazes de sobreviver ao tempo; de outro, no entanto, se recusa a acreditar que as recordações mudam quando estas se adaptam ao presente.

(Indigo em uma música: Letting Go)

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BOM PARA QUEM OUVE: DIIV, Beach Fossils, The Drums
ARTISTA: Wild Nothing
MARCADORES: Dream Pop, Indie

Autor:

é músico e escreve sobre arte