Resenhas

Edgar – Ultrassom

Novo disco de multiartista paulistano é uma experiência profunda sobre pensamentos contemporâneos

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Ano: 2018
Selo: DeckDisc
# Faixas: 10
Estilos: Hip Hop, Experimental
Duração: 40:00
Nota: 3.5
Produção: Pupillo

Filho de um casal pernambucano radicado em São Paulo, o artista Edgar não parece enxergar limites nas possibilidades que o mundo lhe traz como inspiração artística. Envolvido em projetos como Nomade Orquestra e Red Bull Music Pulso 2018, além de marcar presença no brilhante novo disco de Elza Soares, as diversas expressões advindas de sua percepção contém uma riqueza que por vezes pode ser compreendida em sua totalidade, mas certamente proporciona ao espectador/ouvinte dúvidas instigantes e sentimentos bastante únicos.

Com seus discos, não poderia ser diferente. A mistura advinda de diversas experiências artísticas proporciona uma leitura e única e, consequentemente, a criação de universos bastante peculiares. Hoje, Edgar compartilha sua quarta aventura sob esta alcunha, uma que, ao mesmo é multi discursiva e biográfica, já que contém muito do artista dentro de si.

Tal como o nome sugere, Ultrassom investiga o interior de Edgar. Não necessariamente apenas suas dores e aflições, mas toda a construção de seus raciocínio e suas teorias explicando a contemporaneidade em âmbitos de relacionamento, tecnologia e cotidiano. Assim, o disco propõe o olhar costurado do artista, com ênfase neste “costurado”. Tendo trabalhado com performance e moda, parece que o que é construído aqui é uma transposição de linguagens: do tecido para o sonoro.

Edgar sabe exatamente quais panos, linhas e materiais usar para atingir determinadas sensações e com os sons não é diferentes. Timbres específicos são usados em determinados contextos, assim como uma mescla de gêneros a fim de nunca deixar o ouvinte confortável. Há sempre uma sensação de estranhamento que nos impulsiona a investigar o trabalho mais a fundo.

Em timbres elétricos e pulsos constantes, Liquida é um incessante e batucado delírio sobre uma experiência quase lisérgica, da qual Edgar afirma: “Eu aprendi muito mas quando eu calei meu Ego”. Outro momento é o O Dia É Meu, um flerte com o brega e o Synthpop que ganha a participação de Céu pintando uma sensação de conforto um tanto artificial. Plástico é intensa em sua batida e na crítica dirigida à náusea tecnológica que beira uma criação distópica, principalmente na frase “O Futuro é uma criança com medo de nós”. Por fim, Antes Que As Libélulas Entrem Em Extinção encerra com um arranjo robótico e quase minimalista, encerrando com uma espécie de discurso político-messiânico.

Você não precisa entender de arte, performance, moda ou música para experienciar Ultrassom. Apenas um ouvido atento te fornece uma experiência interessante e bastante rica, como uma colcha de retalhos que tem um significado tanto em cada célula como em sua totalidade. Uma performance em forma de disco.

(Ultrassom em uma faixa: Liquida)

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BOM PARA QUEM OUVE: Josyara, Maria Beraldo, Kiko Dinucci
ARTISTA: Edgar

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique