Resenhas

Ghostface Killah – The Lost Tapes

Rapper mantém viva a estética do Hip Hop dos anos 1990

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Ano: 2018
Selo: X-Ray Records
# Faixas: 13
Estilos: Hip Hop
Duração: 42:00
Nota: 3.0
Produção: Big Ghost

Se existe alguém que consegue manter o espírito do Hip Hop dos anos 1990 vivo, esse alguém é Ghostface Killah. Bastião de tal estética desde que sua voz começou a ecoar pelo coletivo Wu-Tang Clan, o rapper de Nova York tem talvez o seu melhor momento como músico na atual década. Já fez alguns discos cinematográficos com Adrian Younge e criou espaço de conexão com novos músicos com seu disco lançado com Badbadnotgood, sempre trazendo sua forma idiossincrática e estilo de contador de histórias em quadrinhos de seus versos. Cheio de codinomes, Killah retorna com suas fitas perdidas, um disco com faixas que poderiam estar no passado, mas que foram consumadas no presente.

Produzidas pelo misterioso Big Ghost, produtor desconhecido e que possivelmente serve como mais um codinome de Ghostface, The Lost Tapes já convida ao seu conceito em Introduction: “Soul Rap, R&B … dusty Soul Rap”. Samples de discos de Soul, Jazz e música negra de raiz seguem em Buckingham Palace, abre alas vertical de Ghostface. Repleto de participações especiais, o disco ganha mais impacto quando não escolhe a violência de batidas, mas sim quando privilegia o sabor do Soul, como em Majestic Accolades ou na ótima Saigon Velour com Snoop Dog – faixa que poderia tranquilamente estar presente em alguma trilha-sonora de Quentin Tarantino.

O gosto por narrativas cinematográficas é realçada por uma produção classuda e de “filme de época”, como na espirituosa Constant Struggle ou em Watch’Em Holla, faixa que faria inveja em Kanye West e que traz o melhor momento que Wu-Tang não teve recentemente. Com nomes conhecidos do coletivo como Raekwon, Cappadona e Masta Killa, esta é uma das músicas mais enérgicas do ano e deixa o gosto de nostalgia menos agridoce aqui.

Diante da recente discografia de Ghostface Killah, não temos muitas novidades: um tiro certeiro e que talvez possa ter como grande ponto alto a produção de Big Ghost, ou seja, dele mesmo (será?) e que coloca o trabalho nos objetivos recentes do rapper. Misturando Soul com filmes de Blaxploitation e eventuais batidas com o pé no Rock’n’Roll, The Lost Tapes serve como um elo com o passado que se rejuvenesce em um artista que sabe usar o seu histórico ao seu favor sem nunca ousar ultrapassar seus limites e objetivos – Killah não quer inovar, mas ser um dos poucos que conseguem se manter nos holofotes com sons de uma época cada vez mais distante. Em tempos de excesso de informação, se manter fiel às suas raízes com trabalhos relevantes pode ser um caminho seguro e eficiente.

(The Lost Tapes em uma música: Majestic Accolades)

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BOM PARA QUEM OUVE: BadBadNotGood, Kanye West, Nas
MARCADORES: Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.