Resenhas

Robyn – Honey

Em grande quebra de expectativas, artista aposta em clima “anti-hits” para criar obra memorável

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Selo: Konichiwa/Universal
# Faixas: 9
Estilos: Pop, Dance, Electro Pop
Duração: 40'
Nota: 4.0
Produção: Joseph Mount, Klas Åhlund, Mr. Tophat, Adam Bainbridge e Robyn

Chegar até Honey é querer matar saudades de oito anos desde que Robyn apareceu com um novo disco solo. Impulsionada pelo single Missing U, a experiência de escutar a obra pela primeira vez é, contudo, a mesma de chegar a uma balada e encontrar mesas e cadeiras na pista de dança, com um grande ponto de interrogação estampado no rosto de quem chegou pronto para descer até o chão enquanto canta os versos emocionados do hit, da mesma forma que lançamentos antigos da artista sueca (como Call Your Girlfriend ou Dancing on My Own). Ao contrário disso, a audição revela um trabalho de nuances sonoras múltiplas dentro do universo melancólico que suas composições habitam. É Robyn como a conhecemos, mas em um momento totalmente diferente – e talvez ainda melhor.

Não é difícil arriscar que, após tanto tempo sem colocar um trabalho no mundo, um artista já celebrado questione sua relevância em um mundo diferente daquele que recebeu suas músicas antes. Quando Body Talk saiu em 2010, o mp3 ainda era maior que o streaming, playlists tinham menos importância e o Pop de cunho mais Eletrônico não era tão presente no mainstream como hoje, com Ariana Grande e Troye Sivan (por exemplo) reinando entre os mais tocados. Ao ouvir as nove músicas que compõem este seu novo álbum, na ordem certa, com atenção crítica, fica a impressão de uma grande resposta às expectativas em torno desse lançamento.

Honey não é uma coleção de faixas fortes para preencher playlists por aí, como alguns discos recentes parecem ser. Pelo contrário, é um trabalho anticlimático com músicas que ou não te chamam para a dança, ou te propõem uma experiência auditiva mais dedicada, dessas que você passa sozinho com seus fones de ouvido explorando um território sonoro. Missing U e a faixa-título cumprem com louvores suas funções de “hits dançantes”, mas são as únicas dispostas a essa responsabilidade. Human Being (parceria com Zhala), já na segunda faixa, pega suas batidas fortes para construir sua melodia em cima da monotonia de um som que se assemelha a uma sirene e acompanha a construção musical até o fim. Incômoda, minimalista em alguns momentos e pouco carismática, ela está longe de querer fazer sucesso.

Essa atitude, presente em quase todo o álbum, mostra que Robyn quis apostar em um clima quase anti-Pop, às vezes anti-Dance, para entregar uma grande obra fora das expectativas. É surpreendente como, em 2018, ela lance Baby Forgive Me como uma baladinha romântica que brinca com referências dos anos 1980 e, sem que você espere, quebra os limites da própria faixa para entrar e se confundir com Send to Robin Immediately, música que expande a sonoridade e o conteúdo da anterior como um remix sem a urgência da dança. Mais do que o melhor momento do disco, é também aquele que mais o define.

Em Between the Lines, um Pop Eletrônico aparentemente “padrãozinho”, ela faz questão que a métrica dos versos desrespeite o ritmo da faixa em alguns momentos. Because It’s the Music parece um banho Pop-anos-90 (pense em Spice Girls e afins) dado a algo que Lorde já teria lançado antes. Para acabar, Beach2k20 ignora os vocais, colocando os versos sempre em plano de fundo para construir uma ambientação meio Chill, meio ressaca por mais de cinco minutos, o momento mais anti-Dance de todo o álbum. Na hora de acabar, Ever Again tem cara de banda – pense Gorillaz ou Metronomy (grupo do produtor Joseph Mount, que assina a maior parte das músicas) – para entregar um Indiezinho com ares de French House consideravelmente diferente de tudo o que foi tocado antes.

Em meio a tudo isso, fica a impressão de que Robyn não entregou um disco de hits explosivos como aqueles seus de antes (ou como Missing U) pelo motivo mais simples (e igualmente anticlimático) possível: Ela simplesmente não quis. Aos seus olhos, pelo que parece, é mais interessante ter uma obra que não chame atenção pelo quanto fala alto – como tantos outros lançamentos desses últimos tempos -, mas que conquiste o ouvinte por aquilo que a artista tem de melhor: Um grande talento para compor faixas de uma melancolia que nunca se afunda em si mesma, mas que aproveita a interpretação emocional da artista para, em uma ambientação sempre muito rica, estabelecer uma relação mais íntima do público com a música. Escutar Honey repetidas vezes não só nos faz concordar com esse espírito, como também perceber o quanto o álbum é completamente eficaz em executar seus propósitos.

(Honey em uma faixa: Send to Robin Immediately)

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BOM PARA QUEM OUVE: Låpsley, Lorde,
ARTISTA: Robyn
MARCADORES: Dance, Electro Pop, Ouça, Pop

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.