Resenhas

Holger – Relações Premiadas

Banda paulistana ressurge com sua sonoridade suave e dançante em bom trabalho

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Ano: 2018
Selo: Balaclava Records
# Faixas: 9
Estilos: Indie Rock, Soft Rock
Duração: 25:00
Nota: 3.5

Com um bom tempo de estrada nas costas, ficou claro que o campo em que a banda paulistana Holger se estabeleceu é justamente o da dúvida cruel de não poder se nomear com precisão sua sonoridade. Colocado como um subproduto do Indie e de sucessivas misturas com ritmos Tropicais e brasileiros, parece que enquadrar a banda sobre estas características ainda é bastante limitante diante das possibilidades que sua sonoridade possibilita. É suave, porém empolgante. Misterioso em suas ambientações, porém concreto em suas percussões. Agora, com seu quarto disco recém-lançado, poderíamos pensar que temos mais propriedade para compreender sua obra, mas, ironicamente, parece que ficamos ainda mais perplexos e ávidos por compreendê-la.

Esse é o jogo que se estabelece em Relações Premiadas: uma sucessiva quebra de expectativas que poderiam nos fazer crer que estamos diante de uma obra confusa e/ou com falta de coesão, mas que, na verdade, constrói a essência do disco nesta imprevisibilidade. Aquela leveza percussiva famosa de discos passados como o excelente Sunga está presente, bem como a agressividade latente de um Indie Rock cru e gritante. O bacana do disco é perceber como a banda coleciona as mesmas referências e memórias musicais com tanto preciosismo e, mesmo elas sendo, às vezes, diametralmente opostas entre si, o grupo consegue agrupá-las de uma forma inédita, como se ainda tivesse muito o que nos mostrar dentro do mundo que construiu. Nem entramos naquele mérito de que “o Indie morreu e afins” pois ficamos convidados a apreciar algo que parece superar os limites dos gêneros.

Nos deixando à deriva de reverbs e percussões suaves, Não Posso Aceitar vai nos acompanhando vagarosamente e construindo um sentimento de tranquilidade que nos permeia por todo o registro. Não Vou Me Distrair pode até ter distorções e um andamento mais rápido mas continua firme da missão de suspender o ouvinte da realidade e fazê-lo voar mesmo que por alguns minutos. Seco e preciso nos riffs, bem no estilo Bombay Bicycle Club, Labirinto segue propondo o que sugere no título: trilhar caminhos diferentes para que possamos nos perder de uma forma positiva dentro do disco. Perdizes parece mesmo o bairro paulistano, na medida que suas subidas e descidas parecem ondas de concreto à qual nos entregamos ao fluxo. Difícil Pra Você encerra o disco em uma distante explosão para que possamos enfim acordar desse estado de transe, sem porém lamentar que a experiência acabou.

É difícil rankear os discos de Holger, pois, além de ser totalmente desnecessário, parece que estamos lidando com mundos diferentes e com Relações Premiadas não poderia ser diferente. É uma ótima sequência da maturidade que a banda vem seguindo, mas também um marco por si só, sendo uma ótima escolha para mostrar para alguém que nunca ouviu falar da banda. Um álbum camaleônico.

(Relações Premiadas em uma faixa: Labirinto)

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BOM PARA QUEM OUVE: Peace, Real Estate, Bombay Bicycle Club
ARTISTA: Holger
MARCADORES: Indie Rock, Soft Rock

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique