Resenhas

John Cale – Shifty Adventures in Nookie Wood

Membro fundador do Velvet Underground traz disco solo carregado de influências contemporâneas e demonstra bom fôlego musical

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Ano: 2012
Selo: Double Six
# Faixas: 12
Estilos: Eletrônica, Folk Psicodélico, Folk Eletrônico
Nota: 3.0
Produção: John Cale

Um certo sentimento de urgência permeia este disco do veteraníssimo John Cale. Para quem não o conhece, Cale é um dos membros fundadores do Velvet Underground, e Shifty Adventures in Nookie Wood é o seu 15º trabalho solo, o primeiro em mais de sete anos. Talvez tanto tempo longe das mesas de gravação e as mudanças no meio musical fizeram o músico adquirir este sentimento. Ou talvez pela idade já expressa nas diversas rugas e marcas de expressão que o tempo lhe trouxeram.

Cale parece querer demonstrar que ainda é relevante para a música com a escolha de algumas vertentes musicais, mais voltadas para sintético eletrônico e alguns traços de Folk contemporâneo. Você não vai se espantar com a criatividade vista no álbum. Na verdade, a maioria das escolhas artísticas no disco já foi vista em algum momento anteriormente. Nookie Wood lembra um pouco o trabalho eletrônico industrial de Trent Raznor, do Nine Inch Nails e do novo How To Destroy Angels, mas um pouco mais psicodélico e descompromissado.

Quando Cale brinca com as texturas orgânicas do Folk, vemos belíssimas canções como I Wanna Talk 2 U e principalmente Mary, em que as emoções transbordam e demonstram que o cantor tem muita coisa a ser dita. Living With You não deixa dúvidas de que o cantor já participou do seminal Velvet. Apesar de não ter a profundidade das canções do antigo grupo, traz a mesma atmosfera psicodélica com guitarras e violões sobrepostos.

No entanto, alguns momentos soam exagerados demais. A vontade de querer demonstrar a contemporaneidade de seu som acaba levando Cale a escolher erroneamente uma ou outra influência. December Rains é horrorosa com sua batida eletrônica comercial e a utilização do auto-tune. A letra sem sentindo com frases do tipo “and Google getting in your nerves” é simplesmente bizarra.

O timbre pesado e soturno de John lembra em diversos momentos como se Paul Banks estivesse com 70 anos e desiludido com a vida. E isso é bom. Scotland Yard por exemplo, poderia ser uma canção B do novo disco do ex-Interpol, assim como Mothra com seu lado eletrônico atmosférico. Face to the Sky é o melhor momento do álbum, pois consegue misturar todos os aspectos positivos do disco, a escolha certa de batidas dosadas com uma voz declamatória carregada de sentimento.

Apesar de não ser um álbum carregado de criatividade, mas sim de influências modernas, e acabar soando parecido com outros sons, tem diversas boas músicas. John Cale, ao final do disco, se mostra ainda relevante para o cenário da música e a presença de figuras históricas tentando trazer uma sonoridade adaptada aos tempos atuais é muito bem vinda.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.