Resenhas

Ital Tek – Nebula Dance

O produtor se distancia do Dubstep para iniciar uma produção de alto BPM que mistura Hip Hop e Footwork com pitadas de Drum’n’bass

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Ano: 2012
Selo: Planet Mu
# Faixas: 12
Estilos: Drum'n'Bass, Hip Hop, Footwork
Duração: 43:45
Nota: 3.5
Produção: Alan Myson

Ital Tek sempre construiu sua carreira em cima do Dubstep. Desde 2007, suas produções mostravam essa linha, mas sua fama de se adequar já era consolidada e foi exatamente que aconteceu aqui. O produtor lançou Nebula Dance e já mostra distanciamento do gênero que seguia para alçar novos voos. No seu terceiro álbum de estúdio, Alan Myson brinca no Hip Hop e no Footwork, com algumas pitadas em Drum’n’bass. Tudo feito de uma forma bastante experimental e impecável, a palavra de ordem aqui é inovação – e nisso sabemos que Myson não economiza.

A grande diferença é que Alan não só inova em um movimento de 180 graus, mas consegue e desafia os gêneros misturando-os com a ousadia e prepotência certeira de que vão dar certo. E como dão. São doze faixas na audácia de permear entre 140 a 160 batidas por minuto, nunca de forma agressiva. Esse é o grande desafio.

O próprio álbum se inicia dessa forma. A faixa que leva o nome do trabalho mostra uma linha acelerada de Drum’n’bass até um closepoint que dá de cara com um Hip Hop 2-step de máxima sincronia, mesma estratégia de Solar Sail, porém com maior uso de synths. Pixel Haze dá grande abertura nos sintetizadores distorcidos em uma base macia, que inclusive é quase que o mesmo padrão de Dusk Beat, uma atmosfera arejada de 8-bit, relaxante, quase que introspectiva. Batidas fortes e marcadas trazem as influências do Hip Hop com Intercruise e Steel Sky em menor proporção. In Motion é um excesso de percussão cintilante e sintetizadores suaves, o que poderia causar uma incoerência traz uma harmonia incrível. Gonga apresenta a aflição com suas progressões que muitas das vezes falta ar.

E então entramos no que poderia, facilmente, ser um prelúdio ou segunda parte da obra. Discontinuum traz a celeridade de forma sutil e acalma, como se os sintetizadores, pianos e percussões deslizassem por toda a base ao ponto de se ouvir sussurros, barulhos de ventania e até a respiração, uma completa hipnose. Em seguida, Human Version vem com a última velocidade com cortes de vocais mecanicamente modificados dando pitadas de psicodelia com os sintetizadores distorcidos. Para fechar a obra, Yesterday Tomorrow Today acalma os ânimos com baixa linha e synths lentos, como o acordar.

Myson deu um grande salto com Nebula Dance. O desafio foi certeiro e sua intenção de misturar foi captada. Seu talento em fazer com que misturas improváveis soem de forma harmônica e sincronizada nos faz duvidar da dificuldade, mas mais que isso, nos faz botar Ital Tek em outro patamar de produção. Talvez sua preocupação demais com a sinestesia atrapalhou um pouco o remédio contra a inércia, mas acredito que sempre essa foi a intenção de Alan: provocar sensações, desde liberdade, até agonia, desde a calmaria até a aflição. O humor foi descontruído e botado no lugar de novo. Isso é mais do que só uma identidade musical com competência, isso é a prova de que basta bom gosto para que nasçam novas tendências.

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BOM PARA QUEM OUVE: Joy O, Flying Lotus, Dj Marky
ARTISTA: Ital Tek

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King