Resenhas

The Weeknd – Trilogy

Fenômeno de 2011, The Weeknd traz as sua mixtapes remasterizadas e prontas para entorpecer àqueles que desconhecem o seu trabalho.

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Ano: 2012
Selo: Republic
# Faixas: 30
Estilos: R&B
Duração: 159:35
Nota: 4.5
Produção: Don McKinney, Illangelo

No cada vez mais longínquo ano de 2011, um artista de R&B lançaria uma série de mixtapes gratuitas que entrariam para o hall de melhores lançamentos daquele ano. Três discos, para ser mais exato, constituíam o que era considerado pelo artista em questão The Weeknd, uma trilogia. Trilogy é o relançamento remasterizado das três mixtapes , com o acréscimo de uma canção inédita cada. O projeto formado pelo cantor de 22 anos, Abel Tesfaye, e os produtores Illangelo e Doc McKinney teve sempre uma preocupação estética, seja através de seus clipes provocantes como em High For This, na identidade de Abel mantida em segredo durante muito tempo ou em seus shows selecionados a dedo, e sempre elogiados.

As três mixtapes, House Of Ballons, Thursday e Echoes of Silence são intensas, abordando temas que envolvem a vida desregrada com drogas, sexo, festas e sem preocupações com o que acontecerá no dia seguinte. Apesar do curto espaço de tempo entre o lançamento de cada uma, são distintas entre si, e poderiam muito bem representar uma carreira artística de seis anos.

House of Ballons é talvez o disco mais comercial, e com aspectos mais festivos do que o resto de sua obra. A festa no entanto não é lúdica como os balões de seu título deveriam indicar, mas sim lisérgica, adulta e pesada. “You wanna get high for this” canta Abel, no primeiro verso da obra. A seguir somos jogados por um caldeirão de emoções, todas ocasionadas pelo uso de drogas, e a falta de compromisso com a realidade. O R&B tocado lembra muito o feito por Drake, que viria depois a constituir uma parceria com Abel, em que ambos trocaram participações entre seus discos. A produção é minimalista em alguns aspectos, com batidas em tempo lento, feitas justamente para que o ouvinte alcance aos poucos a loucura proposta. Arranjos um pouco industriais, lembram os instantes mais recentes do finado e talvez renascido, Nine Inch Nails.

As músicas de House lembram sempre esta festa intensa, como em The Party & The After Party, com a voz de Abel se destacando em versos que retratam o alvo da festa.”With your Louis V bag/Tatts on your arms /High-heel shoes make you six feet tall/Everybody wants you”, a batida retrata o cortejo a uma mulher, para que depois no pós-festa o objetivo seja cumprido, e Abel a conquiste após entorpecê-la. A guitarra suingada e sem distorções é sexy, e lembra o ato sexual. “I know you wanna line with it /Don’t be shy pretty, I’ll supply pretty/ I got you girl”.

Enquanto a primeira mixtape tem um teor relativamente pueril, como se a experimentação e a vida sem regras fosse só uma fase, Thursday é como um segundo disco deveria ser após um período longe dos holofotes: mais escuro e pessoal. Sair em uma quinta-feira normalmente, indica que o próximo fim-de-semana será recheado de excessos, pouco sono e muita intensidade. Life of The Party indica que as festas talvez já estejam chegando ao limite. Com uma batida mais pesada, industrial, dá a entender que a sobriedade e lucidez são estadados raros, e que a vida noturna se tornou algo intrínseco a sua personalidade. Os toques eletrônicos deste disco dão um tom muito contemporâneo e colocam Abel dentre as vozes mais belas e adaptáveis do gênero.

The Birds Part 1 e The Birds Part 2 dão o tom épico ao segundo álbum de sua carreira. “Don’t make me make you fall in love with a nigga like me /Nobody needs to fall in love” soa, com uma bateria militar, quase como uma ordem, na primeira parte da música. Abel é impuro e não faz bem a ninguém, algo que é denunciado na segunda parte da canção com um pseudo choro logo de início. Bem mais calma e onírica, Part 2 é uma transição entre estados de espirito. A voz de Abel é forte e alcança agudos difíceis de serem mensurados.

Echoes of Silence é o disco mais pesado da trilogia, e a escolha por samples e batidas com uma pegada Rock & Roll demonstram esta escolha de direção. Abel parece não aguentar mais viver chapado o tempo inteiro em um mundo de pessoas falsas e sem amor. Em Same Old Song, Abel diz “Well baby I’ve been alone for almost all my life /What makes you think that you could ever do me right?”. As paixões e casos momentâneos não significam mais nada para ele.

Echoes é talvez o momento menos brilhante dentre os três trabalhos. Longe de ser ruim, é mais difícil de ser assimilado e por isso mais forte. D.D, cover de Dirty Diana de Michael Jackson, e que inicia este disco, é certamente a sua canção mais sincera. Guitarras distorcidas e batidas fortes como socos no peito refletem a vontade de Abel dizer o que pensa sobre as tietes que infestam o seu camarim “She waits at backstage doors /For those who have prestige /Who promise fortune and fame”

The Weeknd é um ato de R&B contemporâneo. Assim como outros artistas de outros gêneros, escolheu a distribuição gratuita de material como forma de promoção. No entanto, o potencial deste projeto mostrou-se muito mais elevado do que qualquer expectativa, e tornou-se uma verdadeira expressão artística dos membros envolvidos. Seja através da temática constante e que evoluiu através dos três trabalhos, ou pelas batidas originais, que certamente já viraram marca de Abel, ou pela sua voz sincera e contemplativa, The Weeknd foi um marco em 2011. Tão metórica quanto a sua ascensão está o lançamento deste “box”, permitindo quem não conhece o projeto imergir em quase três horas de R&B onírico e lisérgico.

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ARTISTA: The Weeknd
MARCADORES: Ouça, R&B

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.