Resenhas

Autre Ne Veut – Anxiety

Músico transformou o pesar de seu histórico tortuoso em composições eletrônicas bem estruturadas e inventivas

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Ano: 2013
Selo: Spunk Records
# Faixas: 10
Estilos: R&B, Eletrônica, Synthpop, Avant Pop
Duração: 38:13
Nota: 4.0

Se em seu primeiro disco de estúdio Autre Ne Veut preferia trabalhar com timbres mais experimentais e apresentar seu lado mais técnico e sisudo, em seu mais recente registro, Arthur Ashin optou por imprimir em suas composições seu lado mais cru e transparente, trazendo à luz versos que retratam a dor que vem carregado desde pequeno graças aos problemas patológicos relativos a crises de ansiedade que beiraram ao incontrolável em dados momentos de seu histórico de vida. Após intensas sessões de tratamento psiquiático, Ashin se encontra atualmente num momento mais estável e o material sonoro que carrega sua síndrome no nome, Anxiety, alia de forma clara flexíveis camadas eletrônicas a traços confessionais do próprio.

Tendo o tal passado como motivador do trabalho, não é de se surpreender que os tais vocais em R&B vem em sua maior parte através de tons de lamento, estendendo-se por todo o álbum. No entanto, o norte-americano traduz bem seus sentimentos que foram ofuscados por altas doses de halopáticos por meio de ritmos dançantes que impressionam desde o início e são marcados por uma alta gama de sintetizadores que trazem momentos mais hipnóticos e etéreos notado facilmente em A Lie e que se estendem até a colagens e sobreposições que misturam-se entre o orgânico e o plenamente produzido, como acontece em Warning.

Play By Play e Counting são as criações carro-chefe do material inquieto de Arthur. As faixas são bem apresentadas pelos falsetes do músico que se elevam facilmente a pontos agudíssimos e ardilosos, devidamente acompanhados de uma boa seleção de sintetizadores e diferenciados aqui por instrumentos de sopro e teclas ágeis. A tal produção resume o pesar dos acontecimentos físicos e sentimentais do artista assumidamente influenciado por Annie Lennox e David Byrne e as transpõe para baladas românticas que podem ser facilmente associadas hits românticos e sofredores que vem diretamente dos anos 90 em uma roupagem mais estruturada, mas que não deixa de ser menos comercial.

Dos lamentos rítmicos Promises e Ego Free Sex Free ao enclausuramento ébrio e eletrônico de Don’t Ever Look Back, Autre Ne Veut prova que existe um espaço onde ele possa ser notado na atual mistura promovida por nomes R&B atual: Seja através de uma postura mais dramática que passa longe do ideal de Frank Ocean, ou duma construção mais inventiva e madura que How To Dress Well e The Weeknd, o próprio se transpõe sob tais artistas e abre bons caminhos para o futuro.

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Autor:

Jornalista por formação, fotógrafo sazonal e aventureiro no design gráfico.