Resenhas

Kate Nash – Girl Talk

Obra abandona de vez a postura infantil da cantora para assumir uma pose de Riot Grrrl que vinha sendo ensaiada desde seu último EP, lançado no fim de 2012

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Ano: 2013
Selo: Have 10p Records
# Faixas: 15
Estilos: Indie Pop, Indie Rock, Riot grrrl
Duração: 52:24
Nota: 3.5

Deve ter ficado claro para você a mudança (brusca) de sonoridade entre My Best Friend Is You, de 2010, e o EP Death Proof, lançado no final de 2012. Portanto, se você ainda espera ver aqui a mesma Kate Nash de seu debut ou de seu sucessor, sinto em lhe informar que há poucos resquícios daquela garota ingênua que abria seu coração e que contava a todos seus problemas amorosos de forma cativante, mas ainda assim muito inocentemente.

Girl Talk traz novas perspectivas do trabalho de Kate, desta vez mais maduras e condizente com experiências e traumas que a moça enfrentou durante os anos que separam os dois lançamentos, são músicas que levam seu trabalho a outro patamar.

Esses três anos parecem terem sido duros com Kate (período em que quase decidiu parar de escrever), mas que a permitiram crescer e ganhar confiança como letrista. Além da lírica mais confiante, você verá aqui também muito exagero e abrasividade sonora, em um disco cheio de guitarras distorcidas, vocais fortes e às vezes gritados, e, sobretudo, uma produção que é propositalmente Lo-Fi, deixando essas “falhas” aparecerem e deixarem patente a intenção da moça em soar dessa maneira.

“And the part of my heart, You used to love, It fled, But it doesn’t matter, I still feel the same” (Part Heart). É com essa tônica que Kate abre seu terceiro disco; ao invés do tom choroso de outrora, um sentimento apático e anestesiado toma conta de sua lírica e da musicalidade passiva-agressiva da faixa. Porém, esse não é o único clima que o disco segue; apesar desse descontentamento estar presente em grande parte da obra, ele toma forma em outros sentimentos como arrependimento (Fri-End?), raiva (Sister), hedonismo (Death Proof), confusão (Oh) e frustração (Conventional Girl) em canções que revelam também uma boa gama referências roqueiras.

Mesmo que esse seja um disco que pontua muitas mudanças para Kate, certas coisas parecem não mudar. Sejam os refrãos extremante contagiosos, caso de Fri-End? e Death Proof, a vulnerabilidade lírica em que a cantora constantemente coloca em suas letras, ou ainda faixas mais “bobas”, que podem soar como os trabalhos anteriores da moça, como a dupla que fecha o disco You’re So Cool, I’m So Freaky e Lullaby for an Insomniac, por exemplo.

A mudança da moça veio não somente pelo visual, mas é exposta também em sua música que cresceu em profundidade e parece ser o efeito direto dos revezes de sua vida pessoal nos últimos anos. Mais direto, urgente e às vezes raivoso, Girl Talk eterniza sua passagem de uma menina inocente para a Riot Grrrl que caracteriza a nova fase de sua carreira.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts