Resenhas

Hurts – Exile

Em seu segundo álbum, duo britânico oscila entre faixas muito boas e a vergonha alheia, criando uma obra morna e pouco relevante

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Ano: 2013
Selo: RCA
# Faixas: 10
Estilos: Synthpop, New Wave, Indie Pop
Duração: 42:00
Nota: 2.5
Produção: Dan Grech-Marguerat, Jonas Quant e Hurts

Se o cenário musical de hoje em dia fosse um filme hollywoodiano de ação, Hurts seria aquele coadjuvante cujo ator você reconhece de alguma participação em série de TV, tem poucas falas e morre aos 75% da trama, mas o protagonista parece não notar – nem o público. Mas, é, ele tem lá seu lugar na produção. É alguém que o roteirista faz questão de ter na história para algum gancho ou o produtor aposta como uma boa ideia para chamar mais público ou ter mais um personagem para virar merchandising depois do lançamento.

Mas, cá entre nós, por mais querido que ele seja, acaba sendo meio irrelevante. Com esse duo inglês, não é tão diferente. Seu Happiness, de 2010, vendeu muito em diversos países e garantiu presença da banda nas pistas e na mídia por um tempo, mas virou aquela obra que quase ninguém ouve hoje em dia. E temo que seu segundo álbum, Exile, tenha um futuro ainda mais esquecível que o anterior.

Não que ele não tenha lá suas qualidades. A produção, a cargo de Dan Grech-Marguerat (The Vaccines, Lana Del Rey, The Kooks) e novamente do sueco Jonas Quant, veio caprichada nas referências eletrônicas, para o som meio Synthpop, meio New Wave da banda, com o Dubstep dando uma força como nas músicas de Alex Clare ou no Push and Shove de No Doubt, por exemplo. Algo cool demais para ser mainstream, mas muito morno para cair nas graças dos alternativos.

Fica fácil prever os singles. Além do já lançado Miracle, a balada à la Fun. Blind e a dançante Only You são candidatas certeiras para os clipes e remixes nos próximos meses. Em uma ambientação muito morna, uma sequência na segunda metade consegue se destacar.

Ela começa com The Road, certamente a mais obscura de todo o álbum e a que tem o Dubstep mais agressivo em seu clímax. Desse jeito, fica difícil não curtir – ao menos um pouquinho. Daí vem a curtinha Cupid (que, se eu fosse o empresário da banda, escolheria para ter clipe também), divertida de tudo. Para encerrar o trio, Mercy mistura as melhores qualidades dessas duas anteriores e, mesmo com uma letra demasiadamente dramática, consegue entreter facilmente.

Se Exile fosse um EP com essas três, eu estaria muito satisfeito. Seria um disquinho só de auges – o que mais a gente poderia pedir? Seria bom, mas não é o que acontece. A duas faixas do fim, começa a interminável The Crow e fica mais fácil entender o papel que Jonas Quant teve no trabalho de Lana Del Rey. Para piorar, chega o encerramento com Somebody to Die For e, junto dos versos “And I don’t need this lie, I just need somebody to die for”, grande parte do seu respeito acaba também.

A boa notícia é que, se você está ouvindo o disco no repeat, ele logo emenda na primeira, a faixa-título, e você volta a dançar pra se esquecer do que acabou de escutar. No fim das contas, Exile é isso, um apanhado de músicas meia-boca ideais para quem quer só ouvir um som “bacana” sem ligar para uma certa vergonha alheia das letras. Mas fica a impressão que, se você espremer Hurts, só dá pose. E de poser este mercado já está cheio demais.

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ARTISTA: Hurts

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.