Resenhas

Phoenix – Bankrupt!

Mesmo que potencialmente com menos hits que seu antecessor, essa é uma das obras mais completas já feita pelo quarteto francês

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Ano: 2013
Selo: Glassnote Records
# Faixas: 10
Estilos: Indie Pop, Pop
Duração: 36:54
Nota: 4.0
Produção: Philippe Zdar
SoundCloud: /tracks/79784563
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fbankrupt!%2Fid603203

Antes de 25 de maio de 2009, o Phoenix era só mais uma das inúmeras bandas francesas que tocavam em pequenas casas de show parisienses, muito longe de ser o Phoenix que conhecemos hoje em dia. Não que o grupo fosse completamente desconhecido até então, porém não chegava nem perto de fazer o estrondoso sucesso alcançado após o lançamento Wolfgang Amadeus Phoenix – que na verdade foi o quarto álbum em sua discografia. O talento do quarteto em produzir um bom Indie Pop sempre foi inquestionável, mas foi só a partir de um contrato com uma grande gravadora (a Glassnote Records) e o produtor certo (neste caso Philippe Zdar, que também assina a produção de Bankrupt!), que o grupo conseguiu imprimir em sua música mais confiança e levar a mais lugares seu Pop nada convencional.

Wolfgang Amadeus Phoenix foi sem dúvida alguma, um álbum espetacular e infelizmente para o grande público o que quer que viesse depois dele estaria à sua sombra. Bankrupt! não foge tanto do foi proposto há quatro anos e se por um lado leva o que foi visto ali alguns passos adiante – se é que não leva as barreiras do Indie Pop com ele -, por outro perde muito da urgência vista em seu antecessor. A falta de tantos hits provavelmente irá fadá-lo a um segundo lugar na opinião dos fãs, mas este rende uma audição mais fluída e tão prazerosa quanto o ótimo Wolfgang.

A riqueza sonora deste disco ultrapassa, e muito, o que foi visto anteriormente na carreira do grupo. O maior olhar para os detalhes, as progressões e diversas partes diferentes em uma só faixa constroem uma gama muito mais interessante do que a vista em seu antecessor. E por mais curioso que pareça, a falta de momentos explosivos, acaba o tornando mais coeso e ao mesmo tempo mais experimental.

A abertura do álbum fica por conta de Entertainment, primeiro single de Bankrupt! e faixa mais representativa do álbum. O Pop bem arquitetado de Thomas Mars e companhia, o uso minucioso dos sintetizadores e teclados e a produção exemplar de Zdar vistas nesta canção conseguem traduzir perfeitamente o que veremos daqui para frente. Como principal single é claro que não vão parar de compará-lo aos antigos, como Lisztomania ou 1901, e apesar de ele não se tornar tão explosivo e memorável, Entertainment mostra-se tão necessário e bem construído quanto eles.

Em seguida vem umas das músicas mais curiosamente belas do disco. The Real Thing é um misto de sintetizadores (minuciosamente arquitetados para criar um fundo etéreo para o vocal de Mars) e singelas batidas eletrônicas, que encantam o ouvinte por sua beleza sonora, mas que, assim como grande parte do disco, não consegue empolgar tanto quanto os velhos singles. A ambientação criada nesta faixa e suas pequenas sutilezas mostram o porquê destes quatro anos de espera entre os dois lançamentos.

SOS in Bel Air é uma das faixas mais urgentes e dançantes do disco, porém também uma das mais previsíveis. Ela se constrói a partir de um protótipo Pop guiado por uma bateria pulsante e uma melodia que acelera e desacelera rigorosamente perto do refrão e ao seu fim. Nada de novo para fãs da banda ou ouvintes do Indie Pop em geral, mas pelo menos garante três minutos divertidos para quem não quer sair de sua zona de conforto e dançar com algo que já é “conhecido”. Trying To Be Cool segue neste mesmo caminho, porém aposta mais em texturas eletrônicas e no groove oitentista do Funk e Soul – ambos sublimados em uma ambientação mais Pop.

A faixa-título é a Love Like a Sunset deste álbum. Com quase com sete minutos de duração, ela se segmenta em partes bem distintas, criando uma bela progressão que começa com quase dois minutos preenchidos por calmos sintetizadores, leves batidas e uma condução graciosa do baixo. De súbito os sintetizadores ganham volume e depois voltam a ser calmos e a partir daí transitam entre timbres mais ébrios e etéreos. Perto dos cinco minutos, a voz de Thomas completa o mix, juntamente a um violão tocado delicadamente. Esse parece ser o interlúdio entre os dois “lados” do disco, marcando a transição entre o atual som da banda e as novas influências oitentistas.

Drakkar Noir é mais uma faixa upbeat e divertida. Ela volta a apresentar os arpejos bem estruturados dos sintetizadores (inspirados no Synthpop/Synthrock) e mais uma vez o protótipo Pop, visto com certa frequência nas faixas da banda. O refrão, “In the jingle, jungle / Jingle, junkie / Jungle, junglemen / A better standard than mediocre / I watch you tumble, oh”, cumpre seu papel pegajoso, enquanto Mars usa a marca de perfumes homônima como metáfora para sua lírica esperta.

O riff de Drakkar Noir abre Chloroform que logo desacelera e se torna uma boa balada downtempo. Não seria um exagero dizer que aqui o grupo experimenta com o R&B, mesmo que de uma maneira bem particular, a influência do gênero está presente. A lírica sincera desta parece ser o pré-climax para o que vem em Don’t, que leva essa sinceridade ainda mais além. Nesta, Mars mostra seu medo de relacionamento sérios em versos como “Whatever, we’re so close to “serious” / Whatever promise you made / I have no problem to say ‘no’”. Musicalmente ela não se apega a nenhum estilo e se ergue a partir de uma bateria rápida e constantes mudanças na harmonia da canção.

A crítica social mais incisiva vem ao fim do disco, em Bourgeois. Faixa em que Thomas usa uma garota da classe média para analisar a mediocridade burguesa. A faixa consegue fugir da mesmice criando uma letra inteligente e fácil de cantar junto – experimente isso no refrão, “Bourgeois, why would you care for more? / They give you almost everything / You believed almost anything”, e vai ver que é verdade. A faixa não foge do Pop downtempo visto até então e se torna interessante sonoramente por explorar uma boa variedade de batidas e timbres do sintetizador.

Oblique City fecha o disco retomando à proposta lançada em Bourgeois, mas dessa vez o foco do grupo passa a ser a grande exploração comercial e adoração de grandes marcas (como a Coca-Cola, citada logo no primeiro verso). Fechando o disco simetricamente, a faixa tem um clima upbeat e poderia se tornar facilmente um dos próximos singles de Bankrupt! – reforçando a ideia de protesto social que o nome sugere.

Este pode ser um álbum com menos hits que o ótimo Wolfgang Amadeus Phoenix, mas consegue ultrapassa-lo em uma série de outros quesitos – o que resulta em uma audição sem tantos sobressaltos e mais linear. O teor Pop e pegajoso continua aqui, porém vem de forma mais madura e um tanto mais sóbria. Não compará-los é impossível por aquela ser sua obra prima, mas ao contrário do que aconteceu nela, são as sutilezas e os pequenos detalhes que constroem Bankrupt!e não os momentos explosivos e os grandes hits.

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ARTISTA: Phoenix
MARCADORES: Indie Pop, Pop

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts