Resenhas

Kid Cudi – Indicud

Quase nada se salva no álbum do rapper mas ele parece não ligar muito pra isso, seguindo as mesmas diretrizes fracas. Confira a nossa análise aqui.

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Ano: 2013
Selo: Wicked Awesome, GOOD, Republic
# Faixas: 18
Estilos: Hip Hop
Duração: 70:00
Nota: 1.0
Produção: Scott Mescudi, Hit-Boy

Kid Cudi pode ser considerado o típico caso em que o sucesso sobe à cabeça de um artista e não dá certo. Diferentemente de outros artistas do Hip Hop, em que tal fato parece deixá-los ainda mais confiantes para inovar e alçançar voôs ainda melhores, casos como Kanye West, Jay-Z e Andre 3000 só para citar alguns, o jovem rapper americano parece caminhar cada vez mais para o esquecimento rápido. Em seu terceiro disco, Indicud, temos certeza absoluta que este é um processo praticamente irreversível.

Tudo tem um sentido, uma causa e uma consequência, e na carreira de Cudi o ínicio se deu com sua excelente estreia Man on the Moon: the End of the Day, lançada em 2009. A obra era repleta de hits, como o clubístico Day & Night, as viagens sonoras acompanhadas do duo eletrônico Ratatat em Pursuit of Hapiness e Alive, além das parcerias com Common e Kanye West em Make Her Say. Não só era recheada de músicas boas, como também era estruturada, coesa, um verdadeiro álbum moderno de Hip Hop com começo, meio e fim.

Sucesso absoluto, trouxe muitas expectativas quando Cudi anunciou que o seu segundo álbum seria uma continuação do primeiro: Man on the Moon II: the Legend of Mr. Rager. Lançado em 2010, o disco continha parcerias com nomes de peso, algo que o sucesso no meio traz como benefício, como Kanye West, Mary J. Blige, Cee Lo Green e St. Vincent. No entanto, apesar de mostrar novamente uma estrutura definida em atos, o disco desta vez patinava na qualidade musical, notavelmente inferior ao seu debut, mas ainda assim em um nível aceitável. Tudo bem, exigir um trabalho épico como o primeiro seria demais para um jovem de 26 anos. O que denunciou que talvez Cudi estivesse precisando de uma consultoria a respeito de sua carreira aconteceu quando o mesmo anunciou que estava aprendendo a tocar guitarra e que lançaria um disco sob codinome WZRD, ou, em outras palavras, a sua banda de Rock.

Algo estranho estava percorrendo o ar e o disco, apesar de um ligeiro sucesso comercial nos EUA, era extremamente dispensável musicalmente. Ao mesmo tempo, Cudi parecia considerar-se o melhor rapper de todos os tempos com suas participações preguiçosas em outros trabalhos, como Cruel Summer do coletivo G.O.O.D Music. Toda esta gigantesca retrospectiva nos leva a 2013 e ao seu terceiro disco, um claro exemplo de que sua música está em um estágio deplorável.

Fazia tempo que eu não escutava um álbum que transportava sentimentos tão intensos, mas no sentido negativo, algo que te faz ter raiva e rancor que não deveriam estar atrelados ao trabalho de um crítico de música. Existem trabalhos em que você pode claramente não gostar, mas se mostrarem relevantes para o cenário, ou terem um outro bom momento que não os torna dispensáveis, mas poucos são aqueles em que você garimpa excessivamente os detalhes das canções para achar algo que se salva, uma luz no fim do túnel.

E olha que temos aqui parcerias ainda mais elaboradas: Kendrick Lamar, RZA, A$AP Rocky, Father John Misty e Haim. E muitas, mas muitas músicas (18, para ser mais exato), ou seja, não faltava espaço e auxiliares para fazer este disco decolar. A irônica faixa de abertura The Ressurection of Scott Mescudi tem uns toques de Rock Industrial que fariam Trent Reznor chorar de tristeza devido a falta de criatividade e repetição exaustiva. A ressureição já começara “bem” para Cudi e, logo em seguida, aparece Unfuckwittable, ou – em uma tradução livre – um adjetivo para dizer que ninguem consegue ferrar com ele. O começo até que é interessante, algo que se mostrará pertinente em todo o disco: criações de momentos até que legais, mas que Cudi consegue estragar com a sua presença. O refrão da música, por exemplo, consegue estragar todo o clima apresentado e destoar negativamente do restante da faixa.

O single do disco, Just What I Am, é outro momento em que o refrão foge um pouco do escopo proposto, mas que ainda assim consegue manter a atmosfera de uma até-que-boa canção. A verdade é que Cudi não é um bom rapper tanto em contéudo lírico quanto em rimas – qualquer um com um pouco de entedimento de inglês consegue ver quão pobres são as expressões que ele usa, algo que, se feito em português por um brasileiro, iriamos certamente notar e nos revoltar. Exemplos? Que tal “it’s like the city is mine and the dark is my cave/ I can’t explain this sudden peace in my walk” em Immortal ou “And people think I’m mad/ Won’t you tell them I’m mad solar” na “ótima” Mad Solar. A faixa com Father John Misty só é boa pelo sample de Hollywood Forever Cemetery Sings, do disco de estreia do cantor, e só.

King Wizard mostra como Cudi se tornou prepotente com o sucesso. Logo no início, ele diz “esta música é para os meus manos, amigos e família. F** -se o resto”. Beleza, mas esta música é um lixo, então, paradoxalmente, quem se dá mal no final é você. Batidas fracas, uma reutilização pobre de momentos vistos no seu debut. Realmente triste. Daqui pra frente, você realmente não consegue achar quase nada que preste. Solo Dolo Pt.II, com Kendrick Lamar, e Brothers*, com A$AP Rocky, mostram que os papéis se invertaram na música. É notável a diferença do nível de rimas entre os novos nomes do Hip Hop atual e Cudi.

Aliás, os únicos bons momentos de verdade do disco são quando o autor do álbum aparece o menor tempo possível na faixa, impossibitando-o de estragar as músicas, como em Beez, música com participação de um dos melhores rappers de todos o tempos: RZA, do Wu-Tang Clan. As rimas são excelentes, agressivas e uma batida ligeiramente lisérgica dá o tom de uma canção que mesmo um horroroso refrão não consegue estragar. Red Eye, com as meninas do Haim, é quase uma canção só do grupo e deve ser interpretada como tal. Não tem nada de Hip Hop praticamente e se concentra basicamente neste talentoso grupo feminino, que deve lançar um disco novo ainda neste ano.

Sinceramente, Indicud é um dos piores álbuns de Hip Hop que eu tive a chance de resenhar no Monkeybuzz. Ao longo de 70 minutos, somos jogados à falsa ilusão que Kid Cudi quer passar de que ainda é relevante para música atual ao produzir faixas desitentressantes, preguiçosas e que nos fazem esquecer que, há praticamente quatro anos, o mesmo lançava um dos melhores discos do gênero. Ou o rapper se liga que deve mudar, que a sua formula lisérgica não tem mais a menor a graça e que a sua intervenção musical nas faixas se mostra errada na maioria das vezes, ou a sua carreira tende a sumir aos poucos. Eu poderia até dizer que este é um álbum somente para os fãs do músico, mas posso dizer com conhecimento de causa que nem eles devem se mostrar interessados, mesmo que tentem com muito esforço achar algo que preste no disco. Logo, com fãs cada vez mais divididos e outros jovens comendo muito bem o estilo pela beirada, o futuro de Cudi tende a se mostrar cada vez mais nebuloso daqui pra frente.

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BOM PARA QUEM OUVE: Kendrick Lamar, A$AP Rocky, Kanye West
ARTISTA: Kid Cudi
MARCADORES: Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.