Resenhas

Akron/Family – Sub Verses

Mais uma vez trazendo seu misto esquizofrênico, trio consegue prender seu ouvinte com seu misto entre o Folk e mais outros tantos gêneros, tudo isso sublimado pela psicodelia

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Ano: 2013
Selo: Dead Oceans
# Faixas: 10
Estilos: Freak Folk, Folk Experimental, Folk Psicodélico, Experimental
Duração: 50:51
Nota: 3.5
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fsub-verses%2Fid60018

Para seu sétimo disco, o trio Akron/Family não traz nada de novo à sua sonoridade apresentada em todas as suas obras anteriores. A ressalva é que o experimentalismo e a constante mutação são os pontos que mais definem os antigos trabalhos da banda. Portanto, não inovar, neste caso, significa paradoxalmente trazer uma infinidade de novos elementos, destruí-los, reconstruí-los e rearranjá-los para formar algo sonoramente novo. Assim como nos álbuns prévios, Sub Verses tem certa aura esquizofrênica, exatamente por essa aproximação a esse experimentalismo incontido que se aventura por diversos estilos: desde o Folk Psicodélico ou Freak Folk (gênero mais comum nas categorizações da banda) até um Doo Wop sombrio (apelidado pela banda de “Lynchian Doo-Wop”).

Esse é um daqueles álbuns em que é impossível sentir o todo por uma só faixa. Cada uma delas segue por caminhos bem diferentes umas das outras e, por mais que, elas explorem trilhas mais sombrias nesta obra (fruto da inspiração de The Seer, disco lançado pelo Swans no passado), criam poucos parentescos sonoros entre si. Fragmentado e imprevisível, o álbum consegue prender velhos fãs e alguns novos ouvintes, mostrando a eles, em cada nova canção, um dos inúmeros lados desta multifacetada obra. Ainda assim, pode assustar novos ouvintes e o principal motivo para isso é a falta da sonoridade mais Pop, vista em alguns dos lançamentos anteriores.

A abertura, No-Room, é um bom exemplo disso. Ela se apega ao clima sombrio de The Seer e cria, em uma faixa que chega quase aos sete minutos, um primeiro contato ruidoso, austero e perturbador, acompanhado pela bateria quase mecanizada e pelos sintetizadores e vocais (cantados em uníssono pelo trio em algumas partes) usados para criar essa aura obscura e tensa. Mantendo essa tensão da primeira canção, Way Up se aproxima de um crossover entre Local Natives e Animal Collective – juntando a percussão marcada do grupo californiano com os pesados riffs de sintetizador e as harmonias desfiguradas do quarteto de Baltimore.

O single Until the Morning opta por um caminho mais acessível e faz isso se utilizando das raízes Folk do grupo e de suas tendências psicodélicas. Ela ameniza a obscuridade que o disco apresentara até então e se apoia mais uma vez nas harmonias vocais e sintetizadores para criar a ambientação onírica vista durante grande parte do álbum. Na sequência, Sand Talk é uma das músicas mais esquizofrênicas de todo o álbum. A faixa segue alterando de referências e sonoridades durante toda sua extensão: ela começa com os riffs pesados e excêntricos, de algo próximo ao Math Rock, segue para as harmonias Folk do Fleet Foxes e fecha com um clima do lado mais roqueiro do Local Natives.

Voltando à eteriedade sinistra das primeiras faixas, Sometimes I é algo parecido com uma trilha de um filme de suspense, contando apenas com sintetizadores e a voz penetrante de Dana Janssen. Ao final dela, os violinos colaboram ainda mais para a aura aterrorizante criada pela canção. Mais uma vez mudando as engrenagens e seguindo para outro caminho, Holy Boredom é uma pesada experimentação roqueira e eletrônica, comparável aos hits mais densos do mais recente disco do Liars. Sand Time (não confundir com Sand Talk) mantém a aura roqueira de sua quase gêmea nominal – pegando emprestada também sua melodia, mas não se apegando à total esquizofrenia dela.

Whole World is Watchingse molda a partir dos riffs repetitivos da guitarra e da percussão compassada que se apresentam estáticas durante quase toda a extensão da canção. As duas últimas faixas desaceleram o ritmo e economizam nas estranhezas. Se lembra do Doo Wop à la David Lynch? Pois bem, ele vem em When I Was Young, que aposta em uma bateria ecoante e nos metais para criar o clima vintage da faixa. Samurai, por sua vez, abusa das guitarras havaianas e de um vocal relaxante e harmonioso, quase uma doce canção de ninar após o pesadelo do começo do álbum.

“Zona de conforto” é um termo inexistente no vocabulário de Akron/Family, mas, ainda assim, o trio parece confortável em criar suas abstrações e experimentações musicais, fazendo com que o ouvinte partilhe dessa sensação múltipla, multifacetada e às vezes desorientadora que é ouvir um de seus álbuns. Em Sub Verses, isso não é diferente e vemos nele mais um exemplar de um bom “Akron/Family”.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts