Resenhas

Daughter – If You Leave

Seu coração ficará partido com este disco, mas ao mesmo tempo curado em uma bela obra que de Indie Folk minimalista.

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Ano: 2013
Selo: 4AD
# Faixas: 10
Estilos: Indie Folk
Duração: 45:00
Nota: 4.0
Produção: Igor Haefeli

Quando Daughter lançou seus dois primeiros EPs em 2011, o mundo vivia o auge do minimalismo musical popularizado pelo The xx. Suas faixas pareciam cuidadosamente criadas para propiciar um clima aconchegante e ao mesmo tempo melâncolico, elementos que fizeram a banda inglesa liderada pela vocalista Elena Tonra ganhar notoriedade. Curiosamente, o seu primeiro disco propriamente dito só viria dois anos depois, e If You Leave chega pra te acompanhar nos momentos em que a arte é o ombro amigo dos desolados.

Desde o começo, o disco se mostra um Indie Folk meticuloso. Cada elemento parece ser colocado com a função de deixar tudo mais intenso e doloroso. “Épico” seria uma boa expressão, no entanto, a banda consegue colocar os pés no chão em sua produção, preocupando-se mais com a delicadeza do que o excesso. Winter, por exemplo, consegue capturar o espírito de um clima frio em uma canção que combina com uma paisagem desolada e esbranquiçada. A instrumentação segue um padrão que será repetido com uma certa frequência ao longo da obra: introdução concentrada na voz, enquanto uma guitarra e percussão leves são aumentadas aos poucos. Esse crescimento culmina em um refrão explosivo que depois segue em uma diminuição do volume, deixando tudo mais calmo novamente.

Esta calmaria após a tormenta mexe com o ouvinte e o emociona com uma vocalista que pega os melhores momentos de Florence Welch e os mantém ao longo de toda a obra. O primeiro single do disco, Smother, é de cortar o coração devido ao seu excesso de tristeza, tanto na interpretação de Tonra quanto na sua letra: “I love him but we are not right”, versos que devem se encaixar em qualquer amor partido, independente do gênero. Se você é uma daquelas pessoas que se emociona facilmente com música, este disco é um prato cheio para se afogar as mágoas. Canção após canção, de Still até Tomorrow, as estruturas se mostram semelhantes, mas as temáticas e os elementos colocados acabam transformando cada uma em momento único com a mesma atmosfera de tristeza.

Youth já havia sido lançada no segundo EP da banda, mas, mesmo após dois anos, a música se mostra atual e não consegue enjoar mesmo quem já a ouviu milhares de vezes. A faixa destoa das demais ao seu mostrar mais expansiva e menos minimalista, uma grande balada que poderia ser utilizada a exaustão em comerciais e trilhas sonoras de filmes. Belíssima, sobe e desce, movimentos semelhantes aos sentimentos oscilatórios característicos da juventude. Esta provavelmente será uma de suas faixas favoritas por muito tempo, se já não for.

O escapismo da estrutura bela e melancólica do disco aparece em seu último terço. Surge no momento certo, trazendo frescor e talvez um pouco mais de esperança para os corações partidos que escutam este disco. Sem antes inundar o mundo de lágrimas, Touch e Armsterdam trazem um pouco mais percussão e agito ao disco. No entanto, não se engane, a orquestração aqui sempre segue o seu objetivo maior: te fazer lembrar aqueles momentos em que a vida não parece fazer sentido, mas que ao final, são sempre superados.

Talvez esta seja a maior valência deste álbum, feito para quem ama vozes femininas, minimalismo e beleza musical: o fato de que sempre quando uma canção de If You Leave acaba, o mundo não parece mais tão triste e melancólico, tudo está onde deveria estar, no passado. Como um ombro amigo, as faixas te fazem chorar, externalizar os sentimentos para que possam ser esquecidos depois. Ao final, curiosamente a obra parece conhecer o ouvinte, mesmo sendo um acompanhamento de fundo, mesmo sendo somente arte.

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ARTISTA: Daughter
MARCADORES: Indie Folk, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.