Resenhas

Apanhador Só – Antes que Tu Conte Outra

Alto grau de inventividade domina o segundo álbum da banda gaúcha

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Ano: 2013
Selo: Independente
# Faixas: 12
Estilos: Indie Rock, Rock Experimental, MPB
Duração: 40:15
Nota: 4.0
Produção: Gustavo Lenza, Zé Nigro, Diego Poloni, Antonio de Paula Ternura e Apanhador Só

“Qual é afinal o peixe que tu tá vendendo?” é o refrão de Por Trás, uma das músicas que compõem Antes que Tu Conte Outra, mas poderia bem ser um resumo da atitude que Apanhador Só teve neste seu segundo disco. Não que ela nos indague, mas nos esclarece suas intenções de uma vez por todas com esta que soa como uma evolução natural de tudo o que a banda já fez até hoje, ainda que consiga nos surpreender.

Parte da surpresa vem pela quantidade de novidades em relação a seus trabalhos anteriores, mas também pelo enorme passo dado em direção ao amadurecimento nos três anos que separam este do disco de estreia, Apanhador Só (2010). O “peixe” que a banda “tá vendendo” ainda é aquele do primeiro álbum, mas, se antes ele vinha enrolado no jornal do dia anterior, agora ele aparece no isopor que mantém seu frescor por mais tempo.

Que o grupo é composto de ótimos músicos, quem já viu seu show nunca duvidou e sua excelência é combinada aqui com um alto grau de inventividade em uma busca por harmonias interessantes a partir da exploração de ruídos e elementos diversos. O play se inicia com Mordido, a mais “barulhenta” do álbum, mas também uma de suas melodias mais marcantes – um bom retrato do que a banda pode fazer. Se antes já conhecíamos sua enorme capacidade de escrever hits, agora é a vez do potencial criativo em si ser lapidado.

Para usar a nomenclatura estilística, o trabalho é permeado pelo Rock Experimental sem deixar de lado seu espírito aventureiro que anda de mãos dadas com o Indie Rock de um lado e a MPB do outro – e é aí que fazem sentido as comparações com Los Hermanos, por mais vagas que elas sejam. Caso você queira estabelecer paralelos, o melhor caminho é comparar os dois álbuns um com o outro, mas mesmo esse esforço isolado será em vão. O roteiro do amadurecimento da banda é mais lógico quando levamos em consideração os dois lançamentos que aconteceram no meio-tempo entre eles: O EP Acústico-Sucateiro, com sua grande irreverência e experimentação, e o compacto Paraquedas, que veio como uma despedida momentânea a uma sonoridade mais Pop.

Com essas duas fases concluídas, Apanhador Só pôde trilhar livremente a nova proposta, que traz as intensas Despirocar, Reinação e Lá em Casa Tá Pegando Fogo lado a lado com uma leveza maior em Não Se Precipite, Nado ou Cartão Postal. O que todas tem comum é um percurso tortuoso e nada óbvio que sabe pegar o ouvinte de surpresa a qualquer momento com alguma virada ou elemento inesperado. Para quem procura familiaridade, não espere encontrar hits em potencial, mas a dica é Vitta, Ian, Cassales, que lembra mais a Apanhador de sempre – sem deixar de carregar os atributos do lançamento -, e os fãs mais atentos reconhecerão duas faces familiares em forma de canção: Líquido Preto e Torcicolo, velhas conhecidas das apresentações ao vivo, aqui devidamente trajadas com o figurino da nova fase da banda.

Ter em mente conceitos como “evolução” ou “maturidade” ajuda a compreender melhor Antes que Tu Conte Outra. Não se trata de uma nova proposta da Apanhador Só. Ao invés disso, o disco é mais um episódio na produção artística de uma reunião de quatro talentos que mostra ter fôlego para contar ainda muita história. O próximo capítulo? Não sei dizer, porém a inquietude presente nas músicas mostra que este álbum não se trata de onde a banda quer chegar, mas de um registro da força motora que impele os músicos a seguirem em frente – isto é, sua própria criatividade.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.