Resenhas

Maglore – Vamos Pra Rua

Álbum consegue transmitir através de suas faixas as experiências da banda pelas viagens Brasil a fora misturando MPB com Pop Rock

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Ano: 2013
Selo: Independente
# Faixas: 11
Estilos: MPB, Pop Rock
Duração: 42:23
Nota: 3.5
Produção: Fernando Sanches

”Gosto de apartamento/Mas já é hora de andar/Vamos pra rua”

Tal verso descreve bem o clima de Vamos Pra Rua, segundo álbum de estúdio da banda baiana/soteropolitana Maglore: algo mais cosmopolita mas ainda com as raízes verde e amarelas tropicais que a banda já nos mostrava em seu primeiro disco, só que agora ainda mais intensas e perceptíveis. Se Veroz fazia jus a sua capa, sendo um disco mais pé descalço, mais leve e com cheiro de grama molhada em começo de tarde de verão e com lirismo vindo de títulos e versos com “mel”, “carvão” e “maré”, Vamos Pra Rua faz jus ao seu título: sendo mais urbano, o que a banda justifica ao afirmar que as composições foram baseadas na turnê prévia ao álbum.

O single Demais, Baby! é o responsável por dar as boas vindas ao ouvinte. Já conhecida de alguns, que a ouviram em seu lançamento antes do disco (e primeiro contato para outros), a faixa mostra um pouco dos rumos que a banda tomou nesse segundo trabalho. Algo mais dinâmico e animado do que encontrávamos em Veroz, que carregava mais para o lado lírico e Pop.

Se em um de seus versos é dito ”Desde lá de fora/Carlinhos Brown já vem trazendo/Alegrias de outrora”, a referência ao músico conterrâneo deles não vem a toa, tornando-se uma introdução à sua participação na faixa seguinte, Quero Agorá, onde o compositor, produtor e músico empresta sua voz em parceria com Teago, em uma das faixas que mais fazem referência à Boa Terra citando elementos da Umbanda (Xangô), cultura local/nordestina (xaxando), e símbolos da antiga escravatura local(Casa Grande e Senzala).

Outra parceria contida no álbum fica a cargo do alagoano Wado, que participa da oitava faixa, Nunca Mais Vou Trabalhar, fortificando ainda mais a presença da raíz nordestina na obra. Com destaque para os corais em uníssonos, a música ganha um ritmo que se assemelha ao das canções de roda no melhor clima folclórico brasileiro.

Responsável pelo toque mais introspectivo de toda a obra, Motor se mostra mais imersa no sentimental, ainda que soe mais madura do que as musicas de mesma temática ou clima que foram apresentadas em Veroz. Curiosamente, o eu lírico da canção é feminino (”Você me sugou e me deixou cansada(…)/Venha abrir as feridas, me deixar calada.”) o que nos remete aos moldes das famosas cantigas de amigo, características do Trovadorismo português, onde mesmo sendo um homem o autor, o eu-/lírico era sempre uma mulher que dialogava com seu amado em tons de lamentação.

Ao fechar a obra, Debaixo de Chuva, e principalmente, Sobre Tudo o Que Diz Adeus, completam a tônica sentimental e cadenciada, com a última fechando lindamente com um coral uníssono, digno de ser cantado em meio a abraços e versos entoados alto Enquanto o vocal feminino ao maior estilo gospel ao fundo trata de dar o toque especial a uma das mais bonitas composições do álbum.

Misturando Coca-Cola e Xangô, arranha céu e Arpoador, Pelourinho e Consolação, Avenida Sete e “trem bão”, Vamos Pra Rua é esta mistura de asfalto tropical pelo qual a banda percorreu durante as viagens pelos shows nos últimos anos, e que conseguiu muito bem transpor para suas canções. Responsável por dar uma identidade ainda mais forte ao grupo, o álbum sabe dosar bem os elementos contemporâneos e cotidianos ao ritmo MPB/Pop Rock que tão bem cai aos ouvidos do público brasileiro, e que tem tudo para agradar aos seus.

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Autor:

Marketeiro, baixista, e sempre ouvindo música. Precisa comer toneladas de arroz com feijão para chegar a ser um Thunderbird (mas faz o que pode).