Resenhas

Baths – Obsidian

Segundo disco do multi-instrumentista traz uma atmosfera densa mas com momentos Pop bem executados. No entanto, algumas repetições fazem com o que ritmo se torne enjoativo.

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Ano: 2013
Selo: Anticon
# Faixas: 10
Estilos: Synthpop, Eletrônico Experimental, Dream Pop
Duração: 44:00
Nota: 3.0
Produção: Will Wiesenfeld

A facilidade de produzir música nos tempos atuais pode ser uma dádiva para alguns e para outros somente uma possibilidade de demonstrar a sua arte. Tornou-se normal bandas-de-um-homem-só surgirem, tangendo normalmente o mundo eletrônico sintético. Computadores e instrumentos virtuais estão ai pra isso, como Washed Out e Wild Nothing, por exemplo. Will Wiesenfeld é mais um destes casos e chega ao seu segundo disco, Obsidian, sob o já conhecido nome de palco Baths.

Sintetizadores, drum machines e um belo talento para transformar músicas densas em momentos Pop fazem deste disco um bom acompanhamento para momentos mais pensativos ou nublados, o que deve coincidir com o já iminente denso inverno (pelo menos em São Paulo.) O feijão com arroz é bem feito aqui, e vemos bons momentos como a sequência inicial Worsening e Miasma Sky, ambas com belas bases de baixo e algumas teclas esparsas propiciando um bom ritmo.

Aliás, ritmo é o que parece ser a maior virtude de Will, um talentoso músico que se iniciou nas artes aos quatro anos de idade.Ossuary é um bom exemplo desta qualidade, pois cria uma faixa com sintetizador misturado a uma bateria eletrônica bem compassada, sendo impossível não imaginá-la sendo tocada, e levemente, remixada em clubes por ai. Mas não espere muitas músicas neste estilo, aqui o ritmo é propício para um dia chuvoso ou até um disco para ser escutado no banho. Sim não é brincadeira, e No Eyes ecoa barulhos de chuva deixando a experiência sonora muito mais atmosférica.

A voz do músico se destaca por soar tão aprazível: Pop, mas ao mesmo tempo frágil de certa forma. Misturada a bases tensas como o baixo sintetizado e um piano, vemos em Phaedra um momento interessante, em que somos jogados a uma batida claustrofóbica com a voz sincera do cantor. No entanto, nem todos os momentos merecem tanto destaque e o que acaba deixando o trabalho normal de certa forma, é a repetição de refrões e versos de forma exaustiva sempre com a mesma batida. Não vemos transições entre texturas ou orquestrações. É como se as faixas fossem apresentadas no início e não saíssem deste limbo, ainda que interessante, igual. Earth Death, um eletrônico quase que industrial e pesado, e Inter são bons exemplos deste problema.

Os grandes momentos ficam por conta de Ironworks e No Past Lives. A primeira é um excelente single, bem construído no piano e evoluindo para a melhor faixa Pop do álbum, com ótimos backing vocals e uma orquestração no violino que a deixa levemente letárgica. A segunda tem mais uma vez a utilização das teclas do piano, mas desta vez com uma base rápida e bem erudita. O instrumento é utilizado com o propósito da dança, enquanto um baixo pesadíssimo se mistura a uma voz serena, causando uma estranha sensação robótica ao ouvinte. A música é orgânica e sintética ao mesmo tempo, com uma parada no meio pra uma levada jazzística ainda.

Obsidian é um disco que passa por uma linha tênue entre o Pop e uma levada mais pesada. Ao final, a atmosfera construída é muito bem feita, no entanto, o excesso de repetição em alguns instantes, acabam diminuindo seu impacto, tornam-se facilmente descartáveis. Muito provavelmente o Baths deve ter um show mais interessante que o seu disco, pois tais faixas ao vivo devem causar um belo impacto. Por enquanto vale a pena ser escutado sem muito compromisso, no trânsito principalmente, devido a esta dualidade entre música ambiente e pesada, nunca deixando o ouvinte tranquilo.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.