Resenhas

Ryan Hemsworth – Still Awake

Produtor canadense reafirma sensibilidade e detalhismo ao lançar EP longe do Trap e R&B e mais próximo do experimental

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Ano: 2013
Selo: Nenhum
# Faixas: 7
Estilos: Downtempo, Experimental, Eletrônico
Duração: 23:29
Nota: 4.5
Produção: Ryan Hemsworth
SoundCloud: https://soundcloud.com/ryanhemsworth/06-all-our-thoughts-are?in=ryanhemsworth/sets/a

Um dos nomes mais fortes, influentes e, por que não dizer, novos da cena eletrônica pôs a tão esperada cereja em cima do bolo. Ryan Hemsworth já é nome forte na produção experimental com influências que vão desde o RnB ao Trap, hoje já “passeia” pelo mundo em tour e é aclamado por produtores do mundo todo por colaborações. Sua casa sempre foi cheia dos grandes nomes e por trás desses grandes trabalhos, viria um Hemsworth que misturaria entre o que lhe fazia crescer, com gêneros mais comerciais, e uma personalidade tão clara e sensível que sua identidade hoje já está bem sólida.

Por entre muito Hip Hop, Trap e R&B, o canadense branquelo passava uma imagem diferente. Com todos seus trabalhos durante esses 4 anos de estrada denotaria um produtor visionário que propunha um conceito por trás daquelas batidas de rádio e synths por entre os agudos. Mais um produtor talentoso e bastante antissocial que mostraria ao mundo o que não saía de seu quarto? Não. Hemsworth, hoje, tirou a armadura que tanto pesava e deu um passo a sua personalidade. Still Awake é a prova disso.

Com seis faixas e um remix, a obra recria o Ryan para a cena e seus fãs. O que antes parecia a busca de influências sulistas para fortalecer suas produções, hoje já fica claro como a busca de suavizar qualquer tipo de agressividade sonora. Desde Last Words que Ryan passava uma habilidade monstruosa de construir conceitos onde raramente se depositaria um. Still Awake soa como uma oportunidade que o produtor teve de fazer músicas sem nenhuma amarra, sem nenhum parâmetro limitante, sem inspetoria. São músicas do âmago para o âmago, feitas no calado da noite, quando não se tem ninguém para inteferir. Isso reflete inclusive no desapego do canadense ao liberar seu álbum para download, sem motivos aparentes. Ryan disse apenas da sua felicidade que sentia por termos botado suas músicas em nossos computadores, smartphones, iPods e no nosso cotidiano. “Espero que compartilhem com quem vocês achem que trarão a mesma sensação.”

E é a busca pelo prazer. Sonoro, palativo, sinestésico. As faixas nesse registro são poéticas, milimétricas, detalhistas. Quando cito esses adjetivos, não quero passar a ideia de algo amargurado ou depressivo. Apesar de faixas decrescentes como Mistakes to Make, Track 5 o ponto mais alto, All Out Thoughts Are Physical, o EP não traz consigo essa ideia de forma proposital. Mostra uma vulnerabilidade do produtor que bate quase de antônimo com suas últimas produções. São o lado alternativo, onde se busca energia para mais sensibilidade para depositar quando Sol levanta e os outros acordam. É onde se é autorizado em ser frágil, onde pode-se jogar as maiores angústias para encher ainda mais o espaço de boas vibrações. É possível ver isso na segunda metade da sexta faixa para a última, o remix inspirador e otimista de Taquwami para Perfectly.

Empty Thoughts Over a Shallow Ocean abre a caixa de Hemsworth como um dos álbuns otimistas de Death Cab For Cutie. Uma intro no piano que dá espaço a uma estrutura eletrônica com sintetizadores delicados e samples vocalizados em loop como um corpo submerso em paz na água. A música cresce aos poucos com seus elementos seu clímax em catarse. E como degraus em euforia e completo equilíbrio sentimental, Perfectly se inicia como a estrutura de um Indie que se ausenta de vocal, apenas de sussurros. As notas suaves, quase lúdicas, vão brincando por entre vários canais de samples femininos e masculinos e uma bateria inglesa que encaixa nos ouvidos. De uma música a outra, os sussurros de palavras saem da tentativa e cada vez ficam mais audíveis. I Want To Stare At Your Face Until I Die já tinha dado suas caras (em miniatura?) como (?????) e vem como um sorriso tímido que fala muito mesmo sem ter nenhum vestígio vocal. Uma felicidade enorme se constroi de forma inevitável em qualquer um que seja minimamente sensível com a música, como Bonobo e Roulet nos mostraram também no primeiro semestre.

Ryan não precisa de palavras. Ele já as têm muito nas suas últimas produções, já brincou com elas, já as recortou, já colou, etc. Still Awake é quase que instrumental por inteiro e surpreende-se pelo nível sinestésico que soube passar ao ouvinte. Deu sua cara a tapa para críticas e entregou sua alma em um registro a ser dividido por todo o mundo. A mensagem foi passada de forma visceral e não há nenhuma ambição em trazer como single. O álbum vem para se esconder na caixa de emoções e trazer sensações únicas quando aberta. Ele achou sua forma, mesmo sem preocupação em catalogar em nenhum gênero específico, de se expressar em acordes. Mostrou em harmonia uma nova faceta do próprio Ryan. Um produtor que tem um dom incrível em vender a sensibilidade. Torçamos para que o canadense tenha várias noites de insônia daqui para frente.

Ryan Hemsworth estará no Pitchfork Music Festival 2013, com cobertura do Monkeybuzz. Acesse nossa página especial e fique por dentro de tudo que acontece no festival.

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Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King