Sigur Rós é provavelmente a banda de língua não-inglesa que mais comove multidões ao redor do globo. Um dos símbolos do Post-Rock, o grupo islandês fez sua fama traduzindo sensações oníricas em melodias fantasiosas, quase mágicas. Por isso, não é surpreendente que seus trabalhos que mais se desaproximem daquilo que a maior parte de sua discografia aponta.
É o caso de Kveikur, recebido com certo estranhamento pelo som mais “pesado” presente em algumas faixas, como o single Brennistein que, não por acaso, abre também o álbum. Quem esperava aquele som etéreo, quase rarefeito, se depara com uma grande e, de certa forma, obscura ambientação, com os timbres roqueiros das guitarras elétricas falando mais alto e um quê de música eletrônica.
Isso se repete por mais algumas das músicas, como Yfirbord, com seus tons graves e bateria acelerada, e a música-título, que deixa o vocal de Jónsi em segundo plano. Aliás, sua voz parece ser a ponte entre aquilo que a banda ficou famosa por fazer e a aventura à qual se arrisca neste disco. Se os instrumentos gritam em outras linguagens, o vocal acaba sendo o elemento de maior unidade deste com os outros trabalhos do grupo.
Além desses três momentos, a angelical Rafstraumur – que lembra muito o trabalho de Explosions in the Sky, por exemplo – e Bláprádur retomam esse tal “peso” no som, mas a marca as outras faixas trazem aquilo tudo que o público quer ver no que Sigur Rós lança.
Hrafntinna possui uma tensão menos ruidosa e seu fim, com os timbres de metal, prolongam sua melancolia até o início da leve Isjaki, a primeira a baixar sua guarda e revelar uma certa doçura. Rafstraumur, principalmente no começo da faixa, faz um trabalho também mais leve e, de certa forma, Pop do que as outras. Já o encerramento na triste Var lembra muito o que a banda sempre fez, principalmente em obras como Valtari.
É interessante como as músicas de instrumental mais intenso parecem ofuscar as mais tranquilas. Vale lembrar também que há quem se assuste com timbres mais intensos, e muitas pessoas encontram no som da banda uma espécie de “abrigo” disso. Daí, faz sentido o desgosto com o qual alguns receberam Kveikur. A sugestão para esses é que continuem procurando Sigur Rós nessas músicas. As qualidades de sempre estão lá, apenas com uma nova cara.