Resenhas

Vår – No One Dances Quite Like My Brothers

Grupo dinamarquês parece incorporar bem o espírito gelado de suas terras, e nos proporciona um Post-Punk que deve agradar aos fãs de Sigur Rós.

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Ano: 2013
Selo: Sacred Bones
# Faixas: 9
Estilos: Post-Punk
Duração: 32:00
Nota: 3.5
Produção: Vår

O som do Vår chega a ser até um paradoxo quando percebemos o significa esta palavra em nórdico antigo: primavera. Um som bem gélido percorre as influências Post-Punk deste grupo dinamarquês formado por membros do Iceage, Lower e Sexdrome, todos participantes da nova e efervescente cena Punk que percorre o país. No entanto, vemos no disco de estréia No One Dances Quite Like My Brothers menos ímpeto e mais letargia, como se passeássemos pelos desérticas e desoladoras paisagens da região norte da Europa.

O Post-Punk visto aqui, não vem cristalizado sob alguma fórmula mágica do estilo. O que podemos perceber é que a busca por outras vertentes e influências são as palavras chaves de um disco pensativo e menos imediato que a violência do Iceage, em que Elias Rønnenfelt atua também. Begin to Remember poderia muito bem estar presente em algum disco do Sigur Rós, antes de sua nova formação. Instrumentos folclóricos se misturam à barulhos da natureza, como ventos e sopros intensos. No imaginário o outono é muito mais condizente do que a primavera.

O Joy Division pode ser percebido em The World Fells mas os toques de sintetizadores fazem com a faixa caminhe muito mais pra um Kraftwerk, como se sua condução abrisse as portas para outros elementos musicais. No entanto, a troca de vocais dá um tom muito mais épico à música, fazendo com que Elias soe muitas vezes como Robert Smith, do The Cure. Veja a ótima Into Distance e tente não pensar no som deste grupo. Chega a ser impossível, tanto devido a orquestração que tem uma bateria militar misturada a linhas de guitarra muito sutis quanto a voz, desesperada e devastada. Tais elementos transmitem os mesmos sentimentos que Smith fez em toda a sua carreira.

As paisagens mais desérticas, trazem uma sensação única em Pictures of Today/Victorial como se um batalhão estivesse chegando a uma praia gelada. Uma linha de guitarra swingada se confude com a grande alternância entre os vocalistas. Tal bipolaridade traz um toque bem particular a banda pois as vozes são totalmente dissonantes mas complementares entre si. Hair Like Feathers traz os toques eletrônicos em uma construção bem sólida e pesada. Os instrumentos parecem não encaixar entre si, uma bateria dura e um piano concentrado em notas graves não tão digestivos. No entanto, a sobreposição dos vocalistas e um baixo bem marcado fazem com que a canção faça sentido ao final e mostre um lado ainda mais obscuro da banda.

A faixa título funciona como um interpolação entre todas as influências vistas. Nela, a vocalista do Pharmakon, Margaret Chardiet não canta, mas lê um texto que parece definir o grupo. Ao final ela diz: “no one dances quite like my brothers” enquanto os mesmos sons da natureza se misturam a toques eletrônicos. A incerteza parece percorrer a música inteira, uma sensação inexplicável do que estamos sentido ou escutando, algo que define bastante o Vår, um grupo folclórico como a Dinamarca e os seus países vizinhos pedem.

Combinando bastante com o inverno brasileiro que acaba de nos abraçar neste dia, o Vår parece cria um som particular. A aspereza e tristeza vista no Post-Punk está presente aqui, mas outros elementos distintos do estilo como a música eletrônica e uma leve letargia deixam o grupo com uma música que caminha no sentido oposto do Punk dinamarquês mas ao mesmo tempo o tange em um forma de cantar declaratória e de uma difícil compreensão, logo de cara, do que está ocorrendo. Sem se assustar. o ouvinte deve se deixar levar pela brisa gelada de um som que é feito para momentos pensativos.

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BOM PARA QUEM OUVE: These New Puritans, Iceage, Sigur Rós
ARTISTA: Vår
MARCADORES: Ouça, Post-Punk

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.