Diretamente de Seattle vem o Rose Windows. Seu disco de estréia, The Sun Dogs, tem a discreta proposta de fundir World Music com Post-Rock, duas vertentes que não apresentam interseção em nenhum momento, nem com a maior das boas vontades, seja por parte da banda ou do ouvinte. O mais impressionante é que o resultado obtido no disco atinge outro ponto, fornecendo a impressão que estamos na direção de algum rincão oculto nos canfundós de uma América nativa. Vou tentar explicar.
Bandas como My Morning Jacket, Bon Iver e Fleet Foxes já estiveram por aqui antes. A impressão é de um Túnel do Tempo feito por nerds, com resultados que alteram o produto final. Em vez de desembarcar num 1974 com Rock Rural baseado em Folk, chegamos numa espécie de mundo paralelo, num mesmo 1974 com Rock e um algo mais que é complicado de descrever. Não é apenas Folk, não é apenas Blues, não é apenas um gênero isolado, mas uma mistura harmônica deles, capaz de estabelecer simbiose com a matriz Rock e criar o famigerado “algo novo”. Podemos dizer que o resultado final em The Sun Dogs livra totalmente o Rose Windows de qualquer comparação com bandas frouxas dos nossos tempos, os caras são dignos de imediato respeito. Há passagens que ecoam ao longe alguns momentos de bandas como The Band, Crazy Horse e The Doors, sobretudo pelo uso ostensivo do órgão.
A mente criativa por trás do Rose Windows é o guitarrista Chris Cheveyo, que não canta, apenas fornece as estruturas para o todo. A voz está a cargo de Rabia Shabeen Qazi, que fornece registros impressionantes. Além deles, há uma grande parede de instrumentos que vão de guitarra e flauta a harpa, capazes de proporcionar variações infinitas. Os tons arábicos de Native Dreams, por exemplo, nunca chegam a sobrepujar o ataque rock que se insinua a partir da levada da bateria. Outras canções são belas como Heavenly Dreams ou Indian Summer, capazes de alterar climas e andamentos com naturalidade, sem que pareça necessidade de demonstrar suposta habilidade com instrumentos ou composição, mas por absoluta necessidade e naturalidade dentro da proposta. O resultado também é belo quando uma canção mais delicada como The Sun Dogs II – Coda surge ao fim do disco. Com violão singelo e voz que poderia ser de algum trovador errante, a canção te leva para o território das imemoriais levadas de acústicas em meio a cordas e sentimentos de sol varando as nuvens naquela visão mítica de verão que os habitantes do Hemisfério Norte tanto cultivam.
Disco belíssimo e altamente recomendado.
Rose Windows – Wartime Lovers