Resenhas

Daughn Gibson – Me Moan

Músico com uma voz poucas vezes vista por aí traz uma atmosfera sonora perfeita para acompanhar uma viagem de carro. Está cansado do novo disco do Nick Cave? Corra para escutar esta obra.

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Ano: 2013
Selo: Sub Pop
# Faixas: 11
Estilos: Country
Duração: 44:00
Nota: 3.5
Produção: Daughn Gibson

Ter uma voz potente e grave é uma dádiva mas também um fardo. Dificilmente você conseguirá fugir de um estilo pré-estabelecido em si mesmo e muitas vezes a sua música acaba sofrendo com isso. Nomes semelhantes como Nick Cave e Johnny Cash conseguiram fugir um pouco de tal estigma através de uma vasta discografia, e é isso que Daughn Gibson tenta realizar em seu segundo disco Me Moan.

Logo de cara o que mais chama mais atenção é como o vocalista consegue capturar sentimentos através de seus versos, muito potencializados pelos graves intensos que surgem como frequências vistas normalmente em óperas. Os arranjos nas músicas tentam seguir um pouco esse ar mais dark e misterioso, e acertam em alguns momentos. A gaita de fole misturada a batida campestre chama atenção em Mad Ocean enquanto uma pegada Blues caipira é a essência de Kissin On The Blacktop.

Provavelmente a maior qualidade do disco esteja na adequada atmosfera que engloba a voz de Gibson e traz um toque que lembra viagens à beira da estrada em cenários desérticos dos EUA com o Country rolando ao fundo.Faixa após faixa, tal proposta deixa o ouvinte em um estado de espirito de viajante solitário, enfrentando diversos problemas enquanto tenta transitar de um lado ao outro. Baladas como Won’t You Climb e All My Days Off são quase como tiros certeiros para as rádios do estilo , ao conseguirem misturar aquele clima letárgico do interior com bons arranjos de guitarra e o músico servindo como um ótimo contador de histórias.

No entanto, como um fardo, a voz de Gibson começa a parecer cansativa a medida que o disco vai caminhando pois suas entonações são muito similiares assim como as formas com que o músico se declara aos ouvintes. Para isso, os arranjos de acompanhamento começam a ganhar mais destaque e dão mais vigor a obra, sem que ela caia em uma mesmice sonora sem fim. Excelentes faixas como The Pisgee Nest, uma música que poderia muito bem estar no último e emotivo disco de Cave, e principalmente You Don’t Fade, toda construida em samples tântricos e muito diferentes do que víamos até então nos apresentam outros formatos sonoros que podem acompanhar Daughn de forma mais criativa.

O talento é visivel a medida em que o disco é repetido mais de uma vez no seu player. Apesar de Gibson perder um pouco o destaque necessário depois de uma volta magnífica de Nick Cave neste ano, um som que inevitavelmente ficará ligado ao músico, não só pela voz mas também pela diversidade com que este dinossauro da música construiu a sua carreira, seu segundo disco alcança os ouvidos aos poucos e de leve. Não é uma obra que irá chocar de cara, e talvez só transponha uma intensidade e drama na voz poucas vezes vista pois tal talento não é facilmente encontrado por aí, mas mesmo assim evolui tranquilamente para bons momentos. Provavelmente acompanhará bem aqueles períodos em que você se movimenta e a paisagem parece acompanhá-lo, as chamadas road trips. Ao fundo uma das faixas mais emotivas do ano, Franco.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.