Resenhas

Dave Davies – I Will Be Me

Novo álbum de ex-Kinks se mostra um registro discreto de uma lenda viva do rock

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Ano: 2013
Selo: Purple Pyramid
# Faixas: 13
Estilos: Pop, Rock
Duração: 64:17
Nota: 4.0
Produção: Jurgen Engler

Ao contrário do que muita gente pensa, o fundador dos Kinks não foi Ray Davies, mas sim seu irmão, Dave, no remoto ano de 1963. Assim como as bandas da capital inglesa, os Kinks detinham uma sonoridade mais rascante e pesada, antecipariam o som mod do Who e exibiriam algumas das mais pesadinhas e invocadinhas canções da primeira metade da década de 1960. Poucos devem saber também que o Kinks durou até 1996, mantendo os irmãos Davies sempre presentes, ao contrário do baixista original, Peter Quaife, substituído em 1969 por John Dalton. O baterista Mick Avory também foi trocado em 1984 por Bob Henrit.

Dave Davies, responsável por vocais e guitarra base nos Kinks, iniciou uma simpática carreira solo em 1980, com o disco AFL 1-3603, título extraído do número do catálogo da gravadora. Sempre movido pelo desejo de provar sua importância para o grupo e o rock inglês de forma geral, Dave imprimiu sua marca através das guitarras precisas e tonitruantes, chegando mesmo a se aproximar do chamado hard rock.

A carreira com o Kinks sempre foi prioridade para Dave, até o fim da banda em 1996. Ele voltaria ao disco em 2000 com um registro ao vivo, Live At The Bottom Line, com generosas porções do repertório de sua banda original e alguns sucessos solo. Quatro anos depois ele sofreria um derrame cerebral durante uma visita promocional à BBC, enquanto divulgava seu décimo-primeiro disco, Bug. Após um tempo na recuperação, Dave retornou, mas incapaz de tocar e cantar ao mesmo tempo. Lançou Fractured Mindz em 2007 e dá sequência à recuperação com este I Will Be Me. Como o nome já diz, uma declaração de intenções e uma reafirmação de postura diante da carreira e da música, não desistindo de nenhuma delas.

Na verdade, não há como perceber qualquer sequela através das canções. A abertura do disco com Little Green Amp, já apresenta as tradicionais guitarras altas e vocais marcantes. I Will Be Me não tem apenas canções mais pesadas: há a doçura de The Healing Boy e o romantismo e versatilidade em When I First Saw You. As letras pairam sobre as maiores crenças de Dave, ou seja, misticismo, sabedoria oriental e OVNI’s, mas jamais chegando a irritar com alguma maluquice de old time rocker.

Aos 66 anos, Dave traz um trabalho de rock tradicional, capaz de estabelecer conexão com várias sonoridades mais pesadas do estilo ao longo dos anos 60 e 70, principalmente com as encarnações mais tardias de sua banda, The Kinks. É maduro, mas nunca bundão, jamais acomodado. É o registro de uma discreta lenda viva, de um cara que estava lá, no centro do furacão, em plena tempestade, sendo ouvido, tocando, mostrando a gente tão distante ao longo do tempo como Van Halen ou Yardbirds, como se fazia rock pesado quando esse conceito ainda não existia. Bravo.

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ARTISTA: Dave Davies
MARCADORES: Pop, Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.