Logo que você começa a ouvir The Civil Wars, o disco, se dá conta que trata-se de uma obra séria. Isso em todos os sentidos – tanto nos temas, quanto na interpretação dos músicos e até mesmo no aspecto de obra grandiosa que o trabalho carrega, dessas que sempre figuram em prêmios Grammy e trilhas sonoras de campeões de bilheteria. Até aí tudo bem, só que temos visto que esse nem sempre é o melhor caminho para uma música que atinja a alma em cheio.
Competência, The Civil Wars, a banda, não precisa mais provar pra ninguém – já está tudo muito claro. E sim, ela sabe fazer músicas emocionadas muito bem, mas sua opção de transitar entre as estéticas da música Country e flertar com o Folk quando necessário poderia ser mais interessante se o vice-versa se aplicasse – ou seja, se usasse esse segundo como base e o que tem como raiz viesse em pequenas doses.
Explico: Country é aquele estilo mais rebuscado, cheio de seus exageros – principalmente na guitarra e nos vocais -, tudo muito limpo e trabalhado. Enquanto isso, Folk costuma trabalhar o rústico, o comum, um nível mais orgânico das coisas, seja em tema ou em execução. Não sei você, mas alguém com sangue quente como eu enxerga que o segundo é o mais indicado quando o assunto é “emoção” – e se você sente as coisas todas muito trabalhadinhas, limpinhas e tão planejadas, certamente discorda de mim.
A questão é: The Civil Wars tem seus melhores momentos deslocados do centro da atenção. Sim, as vozes dos dois são muito bonitas e eles são grandes cantores, mas isso a gente vê por aí o tempo todo. Dá pra ver que a proposta é criar algo mais da alma, do coração, e o verniz todo que as composições receberam deixa isso endurecido, quase artificial. É quando o álbum quebra sua fórmula que ele fica interessante.
I Had Me a Girl, produzida por Rick Rubin, é um hit em potencial com uma pegada à la Jack White, mas a guitarra tensa em Disarm chama mais a atenção. São baladas como Dust to Dust (uma daquelas com cara de trilha de Hollywood) que serão lembradas pela posteridade, porém o coração se aquece muito mais com a dupla Sacred Heart e D’Arline – que, por virem no encerramento, mais se parecem com faixas bônus do que com músicas integrais do disco. Muito menos intensas sonoramente, elas sussurram com mais eficácia a mensagem que o álbum inteiro grita.
Os fãs de cavalos, chapéus e esporas vão curtir essa pegada “rodeio”. Pena que fica a sensação que essas músicas poderiam ter sido trabalhadas em caminhos mais orgânicos e assim, atingido tanto o público “vaqueiro” do Country quanto qualquer fã de música melancólica. Quem ouve Bon Iver, Laura Marling e Keaton Henson sabe bem disso.