Resenhas

Public Service Broadcasting – Inform, Educate, Entertain

Novo disco do duo britânico retoma o britpop criando uma obra coesa e excelente, ótima para nostálgicos de The Smiths

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Ano: 2013
Selo: Test Card Recordings
# Faixas: 11
Estilos: Electrônico
Duração: 43:35
Nota: 5.0

Esta é simplesmente a banda mais legal surgida nos últimos tempos, a única com um conceito mais ou menos novo, ou, melhor dizendo, utilizado com abordagem moderna, capaz de soar audacioso mesmo em 2013, quando todas as barreiras paracem ter caído na música pop. A ideia é simples e genial: misturar trechos visuais e sonoros de mensagens governamentais do governo britânico da primeira metade do século XX com instrumental que pode variar do rock alternativo inglês dos anos 90 como algo que poderia ser tocado por um Kraftwerk adolescente ou por um Talking Heads do ensino médio.

Os responsáveis por essa façanha têm a simpática esquisitice já em seus “nomes”. J.Willgoose, Esq é o responsável pela concepção sonora, arranjos e instrumentos diversos, enquanto Wrigglesworth dá conta das baterias e percussões. Willgoose teve a ideia de empreender uma extensa pesquisa nos arquivos da BBC 4 e saiu-se com vários trechos de comunicados formais. Percebeu que estava diante de uma modalidade pouco explorada de futurismo, aquela audaciosa visão datada de futuro, que nunca chegou a confirmar-se, e soltou sua imaginação para chegar logo no nome da dupla, Public Service Broadcasting, conferindo a pompa institucional para a empreitada. É bastante similar ao conceito de Stereolab, quando Tim Gane e Laetitia Sadier buscavam nome para sua própria banda, dez anos antes. A mesma visão sessentista de futuro, transformada em música. Tecnologia sobrepondo a humanidade e englobando-a, transformando-a. A partir disso, paira no ar um clima de distopia involuntária, algo como um 1984 casual, um Admirável Mundo Novo espontâneo e divertido.

Os clipes e apresentações ao vivo do PBS mostram os trechos dos filmes governamentais e os confrontam com a ambiência sonora executada com extrema precisão pela dupla. Pequenos clássicos surgem dessa estreia em disco, antecedida por dois EP’s, lançados desde 2010. Theme From PBS é um exemplo de amor declarado ao Kraftwerk do início dos anos 80, enquanto Spitfire lembra History Repeating dos Propellerheads, no quesito “bandas dos anos 90 tentando emular sonoridade dos 60”. A sensacional Night Mai conjuga techno noventista com teclados climáticos, lembrando um Daft Punk sem influências disco, deixando presentes apenas os ensinamentos alemães dos anos 70.

Public Broadcasting Service, como diz o outro, está bombando na terra da Rainha e este disco de estreia já conseguiu ultrapassar o mercado independente e atingir um público maior. Eles apareceram na série Minha Loja de Discos, do Canal Bis, quando a estrela era a Rough Trade, loja lendária de Londres e selo que lançou bandas legais nos anos 80, como os Smiths, por exemplo. Eles retomam uma linha genética de fleugma e britanicidade como não se via desde o britpop. Não dá pra saber se isso é intencional ou mesmo parte permanente do ideário de Willgoose, mas dá pra cravar Inform Educate Entertain como um dos grandes discos deste ano e, certamente, apontar a dupla como a grande novidade desde ano. Ouça agora.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.