Guitarra, baixo, algumas batidas e sua voz (sempre cheia de reverb). É basicamente disso que jovem Archie Marshall, mais conhecido como King Krulle, precisa para dar forma ao seu primeiro álbum.
Jazz, Dub e Rap se encontram em uma mistura quase minimalista que vai ao encontro do potente vocal do garoto. Esse misto inusitado teria um grande potencial para tornar 6 Feet Beneath The Moon um dos melhores álbuns do ano, como os singles Easy Easy e Neptune Estate bem mostraram. Porém a audição completa do disco se revela não tão completa quanto poderia, se tornando monótona em alguns momentos.
Não que as faixas sejam ruins (separadas, quase todas elas são ótimas), mas o pequeno número de elementos faz com que eles se tornem bem parecidas entre si. A culpa disto vem principalmente da produção que dá maior ênfase à (ótima) voz do garoto, parecendo deixar todo o restante lado. Com os arranjos em segundo plano, muitos detalhes se perdem durante a audição e sem o amparo de mais instrumentos ou elementos as faixas soam tão coesas ao ponto se tornarem muito lineares.
Outros elementos aparecem de forma esparsa durante a obra. O sintetizador interagindo muito bem com a guitarra em Foreign 2, o teclado criando o fundo para soturna Cementality, os metais em A Lizard State e Neptune Estate, as texturas de The Krockadile, os samples de Will I Come e o piano na jazzística Bathed In Grey são elementos que conseguem quebrar um pouco da dinâmica guitarra/batidas que permeiam quase todas as outras faixas e são elas que dão maior senso de mobilidade ao disco.
Fora a isto, as faixas que mais se diferem ganham forma do quase Rap com toques do R&B que Marshall cria. Com batidas típicas do estilo, o músico canta melodicamente onde caberiam rimas. Canções como Boarder Line, Foreign 2,Will I Come, Neptune Estate, The Krockadile mostram essa aproximação do garoto ao estilo e por mais que ele não esteja rimando, sua fluência e a forma de cantar caem muito bem para voz.
Se por um lado o disco não ganha tanto destaque pela sonoridade às vezes repetitiva, as letras do músico, potencializadas pela sua voz, ganham total destaque. Sua poesia musicada é esta cheia de passagens confessionais, letras de um jovem que saiu a pouco da adolescência, mas que já consegue enxergar a vida com certa maturidade.
Se colocássemos a experiência de se ouvir o disco em um gráfico, ele seria praticamente uma reta paralela ao eixo das abscissas. Por mais que 6 Feet Beneath The Moon fuja do obvio, o álbum não garante uma experiência tão rica ao ouvinte. Ainda assim a obra mostra o enorme potencial que King Krule tem em suas mãos e melhorando alguns aspectos mais básicos, o músico tem de tudo para se tornar um dos grandes expoentes da música inglesa daqui a alguns anos.