Resenhas

Emicida – O Glorioso Retorno De Quem Nunca Esteve Aqui

Quem esperava pelo tal disco pode respirar, pois o novo álbum do rapper brasileiro é destaque no site

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Ano: 2013
Selo: Laboratório Fantasma
# Faixas: 14
Estilos: Hip Hop
Duração: 51:15
Nota: 4.5
Produção: Emicida

Chega a ser engraçado pensar que O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui é o primeiro álbum de estúdio do Emicida. Tanto tempo na atividade de divulgar o Hip Hop para os mais jovens e criar um estilo próprio de rimas fizeram do rapper uma importante figura não só na cena como na música brasileira como um todo. Daqueles artistas que os olhos cresciam de esperança quando as ótimas mixtapes, Pra Quem Já Mordeu Cachorro Por Comida, Até que Cheguei Longe…, dona do hit Triunfo e Emicídio, ambas já lançadas há mais de três anos, Leandro Roque já era uma realidade muito antes do seu “debut”.

Tanto tempo sem lançar nada enquanto se envolvia nos mais diversos projetos como a vitoriosa turnê junto com Criolo, ou a participação de festivais nacionais e internacionais, transformavam o rapper em um nome comum no dia a dia das pessoas. O menino do pobre que explodiu no underground do Hip Hop paulista ganhava cada vez mais notoriedade, espaço e tudo isso se traduz em um disco muito bem produzido e que deve fazer com que o artista chegue ainda mais longe no cenário musical. Certamente iremos escutar dos puristas que Emicida se vendeu, e que parcerias com outros artistas do mainstream como a Pitty são de caráter duvidoso. No entanto, a música aqui é de ótima qualidade, e o rapper tenta de todas as maneiras mostrar que ainda é a mesma pessoa, algo paradoxal e complicado.

É visível que a turnê feita com Criolo influenciou de certa forma um músico que sempre teve os pés na MPB. No início de sua carreira musical, Emicida procurava fazer samples de discos do gênero, daqueles bem obscuros que ninguém se dava conta. Entretanto, a influência do rapper do Grajau é notável, e ganha grande parte do disco com influências nacionais diversas. Como o samba sacana, Trepadeira, sobre uma mulher fácil ou o sambão de raiz Samba do Fim do Mundo. Ou Rock Indio feito com flautas em Nóiz. Tudo vale para para reverenciar as nossas raízes em versos rápidos e diretos.

Bastante completa, a obra é grandiosa em sua produção, e detalhes são percebidos em cada faixa como se muito tempo efetivamente tivesse sido gasto com cada parcela do disco. O cuidado visto aqui é apresenta um novo mundo ao músico, capaz de alcançar as rádios facilmente e se quiser até lugares mais “coxinha” das mídias nacionais. Hoje Cedo é single na medida certa para transformar as grandes rádios brasileiras em transmissoras de Hip Hop, um gênero ainda subjugado por aí. A parceria com a Pitty em tal faixa é muito boa, apesar de todas indicações mostrarem o contrário anteriormente.

A sua veia de mixtape aflora na excelente Levanta e Anda, faixa que parece fadada a batalhas de break dance ao mesmo tempo que tem um refrão que claramente denuncia o caráter um pouco mais Pop que permeia a obra. A participação de Rael , no entanto mantém o espírito de rimas rápidas e certeiras. As letras não nos deixam esquecer que aqui escutamos um gênero que procura ser subversivo apesar de seu embrulho mais “mastigável”. “Os boys conhece Marx e nois a fome” é uma das grandes frases do ano. Mas o Brasil é o lugar do disco com Hino Vira-Lata, mais um Hip Hop influenciado pelo samba, feito em conjunto com Quinteto Branco e Preto, enquanto Gueto, com participação do MC Guimê, bebe no Funk da periferia em mais um tiro da certo na produção do disco.

Se o tom confessional de suas letras não parece tão diferente do que vimos em outros momentos, quando o músico quer criar baladas vemos que ele ainda é capaz de transmitir tranquilidade faixas como a delicada Sol de Giz de Cera com a Tulipa Ruiz ou a sexy Alme Gêmea. Aliás, os poemas inseridos entre algumas canções mostram um garoto que sofreu na vida mas que agora pode sorrir a partir do seu trabalho. Milionário do Sonho é o grande exemplo de alguém que batalhou na vida e que realmente seguiu o que desejava.

Hoje em dia ele é recompensado com um excelente disco, um mundo de possibilidades e provavelmente cada vez mais sucesso em sua vida. Por isso que antes de julgar um artista, e apontar os dedos para algumas direções artísticas devemos primeiro entender o som que nós é passado e depois compreender que se você considera a sua vida difícil, tente viver de música e de uma esperança para você ver o que é realmente sofrimento. Emicida merece pelo seu trabalho, e demonstra uma liberdade maior mesmo com uma produção tão espessa mas ainda sim, independente, e nos disponibiliza um grande disco não só de de Hip Hop mas também de MPB, por que não? Se a música popular brasileira é um epifania de desejos e ritmos de um povo, o rapper consegue traduzi-los muito bem em versos urbanos, densos e facilmente assimiláveis pelos brasileiros.

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ARTISTA: Emicida
MARCADORES: Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.