Resenhas

King Khan And The Shrines – Idle No More

Novo disco do conjunto é uma interessante alternativa para revistar a Soul Music dos anos 70

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Ano: 2013
Selo: Merge Records
# Faixas: 12
Estilos: Garage, Psychedelic Rock
Nota: 3.5

Arish Ahmad Khan é canadense de ascendência asiática e indiana e mora em Berlim. Passou sua infância e adolescência em Montreal e costumava ir até a reserva dos índios Kahnawake Mohawk. Como se essas três linhas não fossem globalizadas o bastante, Khan é o vocalista e mentor de várias formações de Garage, Punk e Rock da cena canadense. Com Shrines, a história começou em 2005, após o lançamento de Billiards At Nine Thirty, disco dividido com os amigos do Dirtbombs e voltado para uma abordagem garageira, suarenta e amalucada do Soul.

Voltaram à carga em 2007 com um disco só para eles, What Is, no qual deram prosseguimento à revisitação do soul e do northern soul através da ótica garageira, o que significava um aumento nos níveis de esporro e diversão e consequente diminuição dos contingentes de relevância e reverência que mesmo a mais profana versão da soul music merece. Não é uma simples forma de expressão musical como qualquer outra, pra fazer soul music é preciso pré-requisitos da vida, nem sempre tão alegres assim. De qualquer maneira, o resultado do segundo disco apontava para uma reverente e simpática homenagem.

O mesmo clima permeia este novo trabalho. A abordagem é de revisitação de várias nuances não só da música negra sessentista, mas, en passant, das formas de Rock mais marcadas por sua presença. Desse jeito, é possível detectar passagens de The Who logo na faixa de abertura, “Born To Die”, que poderia passar perfeitamente como um nugget perdido de 1967 para ouvidos despreparados. Bite My Tongue, que vem em seguida, é um exercício de estilo para bandas dançantes sessentistas com naipes de metais em total sincronia com a levada rapidinha, cheia de graça e dança. Cordas e metais introduzem Thorn In Her Pride, que emula o groove mais cru da Stax Records, cheia de coros e prováveis dancinhas de backing vocalists.

O caminho vai por essa vereda, tangenciando pequenas hecatombes sônicas sob controle, como se estivéssemos numa coletânea de bandas obcuras ou coadjuvantes de Northern Soul, a variante branca e dançante do estilo. Há riffs de órgão, grooves de baixo e bateria, sequências de metais e uma saudável inclinação para a festa, transbordando espontaneidade e superando a regra sagrada da proporcionalidade da Soul Music: a felicidade e o espírito de celebração que permeiam as canções deste Idle No More são a melhor forma de prestar algum tributo aos mais elevados patamares da música negra. Claro que não bate os originais, mas é uma honesta e crocante alternativa.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.