Resenhas

Body/Head – Coming Apart

Novo projeto de Kim Gordon derrapa no atual estado de espírito da vocalista. Confira aqui a resenha de um dos discos mais tristes e decepcionantes do ano

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Ano: 2013
Selo: Matador
# Faixas: 10
Estilos: Noise Rock
Duração: 66:00
Nota: 2.0
Produção: Body/Head

Body/head parece se esconder atrás de alguns títulos e fatos. Seja pela faceta de um novo projeto de Kim Gordon, ex- Sonic Youth, ou pela estilo de música, Noise Rock, ou pela sua densa atmosfera facilmente atrelada ao término de um relacionamento que não só engloba Thurston Moore, mas também uma carreira de 30 anos de idade, tudo pode ser utilizado como justificativa para o que escutamos em Coming Apart.

A obra está longe de ser facilmente digerida, e expressa um estado de espírito, no mínimo depressivo, de Kim Gordon. Aliada a Bill Nace e ao longo de 10 faixas, Coming Apart não procura se importar com o bem-estar do seu ouvinte, e serve principalmente como o grito de uma mulher após uma traição viu seu mundo se desmoronar. No entanto, a música vista aqui dificilmente teria tanto impacto se todos os fatos citados acima não existissem.

Sob a faceta do barulho do Noise Rock, tudo pode ser compreendido como música ou pelo menos forma de expressão. A falta de uma grande estrutura nas canções, que fluem através de uma voz sofrida de Kim, pegando os momentos mais experimentais do Sonic mas misturados com uma base sonora feita por Bill só contribuem para uma certa náusea. Abstract abre o disco como uma poesia solta da vocalista, sem ritmo ou melodia, e somente barulhos paradoxalmente minimalistas.

Não espere por grandes mudanças, e Kim continua sofrendo como na curta Murderess ou na faixa endereçada ao seu ex, Last Mistress (última amante). A distorção sempre fez parte da história musical do Sonic, e tal artifício é utilizado em algumas músicas que conseguem passar a confusão do projeto na forma de acordes como em Actress ou Everything Left. A medida que o disco vai fluindo, todo o peso que a vocalista sente é transmitido perfeitamente ao ouvinte. No entanto, tal espírito acaba afastando quem está em contato com a obra, como aquela pessoa que está muito mal e você não consegue fazer nada para ajudá-la. Com o passar do tempo, você se afasta, não porque não goste dela mas sim porque tem os seus próprios problemas para lidar, e a energia passada suga as suas forças para isso.

Black, Can’t Help You ou o próprio título da obra, “Desmoronando”, foram as formas de expressão encontradas por Kim para tentar externalizar o que estava sentindo. Chega a ser triste ver como se encontra a talentosa música após os acontecimentos recentes, e o fato de a mesma se expressar através da formação de um novo projeto, tão obscuro e claustrofóbico, é louvável. Entretanto, se não fosse Kim Gordon, talvez não tivéssemos tanta paciência para aguentar mais de uma hora de barulhos sem coesão e uma vocalista que só consegue passar depressão. Infelizmente, o resultado aqui está longe de ser relevante musicalmente e ficamos um pouco mais chateados ao fim de Coming Apart, seja pelo seu conteúdo ou pela atmosfera transmitida.

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BOM PARA QUEM OUVE: Portishead, BEAK>, Sonic Youth
ARTISTA: Body/Head
MARCADORES: Noise Rock

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.