Resenhas

Lulina – Pantim

Denso e complexo, disco novo da cantora pernambucana expressa um estado de espírito melancólico e autocrítico

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Ano: 2013
Selo: YB Music
# Faixas: 13
Estilos: MPB
Duração: 43:00
Nota: 4.0
Produção: Rodrigo Lemos

Pantim poderia ser facilmente confundido com os pensamentos presentes na chamada geração Y. Denso liricamente desde seu início mas ao mesmo tempo expansivo e irônico de certa forma em seus arranjos, o disco acaba se tornando um paradoxo curiosamente interessante e pertinente para os mais jovens, uma tentativa de enfrentar a vida sem perder o controle. Sentimentos como a frustração, tristeza e incerteza são o tema central de uma obra que é um livro aberto de como Lulina se sente.

As cores vistas nas obras anteriores da cantora pernambucana, e no seu debut de 2009, Cristalina, parecem ter se dissipado e hoje, aos 34 anos, ela está “azul”. Bombom Recheado abre o disco de forma magistral, e já esbanja um estado de espirito triste, “me toquei de que não era nada, me toquei, o mundo é um piada” coincide com um bela combinação entre piano e bateria. A ironia já começa no título, o doce recheado é na verdade uma vida amarga.

Mas a tentativa de se tornar mais leve aparece quando temas típicos da música brasileira começam a aparecer. A divertida marchinha Respeite(A Placa) diz “não alimente as inseguranças, a gente bota banca de resolvido e maduro, no fundo está com as pernas bambas” em um delicioso sotaque de Pernambuco. O samba a Faxina no Juízo vai crescendo junto com as palavras um tanto pesadas que Lulina joga. “Melhor não procurar do que se achar perdido” parecem ser duras constatações mas todo o espírito da música é leve como o ritmo pede. A autocrítica é feita sempre através conduções cadenciadas que acabam afastando a melancolia.

Sexo é Maquiagem é o momento mais dançante devido ao seu baixo bem pulsante, e os backing vocals cuidadosamente colocados em seu refrão, e talvez seja a grande combinação de cores no disco Imperador Buccini , no entanto, é de chorar com seus acordes esparsos e distantes, e contrasta com Lulina querendo se sentir dona do mundo por mais um segundo. A felicidade é esparsa e tem que ser aproveitada quando surge. Zorra Parcial é linda e talvez seja síntese das incertezas de uma geração que parece querer fazer de tudo mas ao mesmo não ter a capacidade de se focar para alcançar um objetivo. Tudo isso gera frustrações, e qualquer escapismo pode ser expresso nos versos iniciais “vai é só eu me ocupar que vai parar toda a preocupação que me tomou”.

ZYB é ensolarada e parece ser um fim um pouco mais esperançoso para obra. “Já que estamos que tal aproveitar?” diria a voz da cantora ao se encontrar com uma guitarra delineada em um solo solto no fim da canção. No entanto, a faixa título é uma triste constatação de Lulina, e une todos os sentimentos expressos em Pantim. “Nunca ouve festa, nunca ouve diversão, me desculpe meu patrão vou pra casa” se tornam ainda mais pesados com a orquestração progressiva da faixa e sua guitarra repetida em exaustão.

O amadurecimento ainda parecer bater na porta da cantora, e todas as sensações e frustrações da cantora reverberaram em Pantim, um disco repleto de pensamentos aplicados aos tempos atuais. No entanto, chega a ser um pouco desesperador concluir que a última constatação de Lulina é de que nunca ouve diversão. Com certeza é um grito de algo que já estava preso há muito mas não necessariamente uma verdade universal, e sim uma perpetuação de um estado de espírito de difícil administração. Quando os problemas são encarados com mais esperança, o samba, a marchinha e dança surgem em sua música, mas ao retornar àquele pensamento viciado, Lulina, mostra-se em uma fase complicada. Pessoal e complexo, o álbum mostra novos ares na vida da cantora.Somente esperamos que ela os encare com moderação e menos cobrança de si mesmo até porque a insatisfação parece ser intrínseca ao ser humano e se tornar completo é uma batalha constante e sem previsão de encerramento mas nem por isso devemos perder a cabeça.

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BOM PARA QUEM OUVE: Clarice Falcão, Nana, Mallu Magalhães
ARTISTA: Lulina
MARCADORES: MPB, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.