Resenhas

Elvis Costello and The Roots – Wise up Ghost and Other Songs

Parceria consegue se traduzir em belas referências à música negra, no entanto, acaba se mostrando um pouco conservadora e “boa como esperado”

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Ano: 2013
Selo: Blue Note
# Faixas: 12
Estilos: R&B, Funk, Hip Hop
Duração: 55:54
Nota: 3.5
Produção: Elvis Costello, Questlove, Steven Mandel

Elvis Costello dispensa comentários. Dono de uma carreira que engloba mais 30 discos em pouco mais de 35 anos de carreira, o músico é uma referência de amor ao seu ofício. Com uma voz grave, rouca e imperfeita como aquelas escutadas nos sinceros cantores como Lou Reed, Bob Dylan ou Neil Young, Costello merece uma redescoberta para somente evidenciar a sua grandeza. The Roots , a parceria da vez do cantor, é a uma joia rara no Hip Hop, uma das poucas “bandas” do gênero que tem a capacidade de ser chamada como tal. Com músicos de verdade, um groove único e um espírito verdadeiro da música negra, podem ser considerados a escolha ideal para se unir a este virtuoso artista.

Em Wise Up Ghost and Other Songs , obra que introduz tal união, ambos parecem fluir como o esperado, indo de encontro ao groove cantado por um branco mais ainda sim enraizado na Black Music. Walk us Uptown é um Funk concentrado nos instrumentos de sopro e na bateria quebrada de Questlove, evidenciando a qualidade do The Roots, uma banda que serve de apoio a todas as apresentações do programa de entrevistas de Jimmy Fallon, conhecido por inserir artistas da cena Indie. O Swing é visto em Sugar Won’t Work, faixa extremamente sensual e que soa ainda mais interessante na voz rouca de Elvis.

Um pouco de Hip Hop é escutado aqui, menos do que esperávamos de tal parceria e ainda assim distorcido em versos cantados pelo músico. Em Wake me Up as melodias um pouco mais rápidas dão um pouco de esperança que veremos o estilo aqui, no entanto, a constatação é de que estamos muito mais próximos de um R&B. Tal intenção acaba refletindo nas músicas vistas no disco, todas muito bem produzidas e que não diminuem em nada o impacto da parceria mas que somente nos dão a impressão de que a união é um pouco conservadora.

A duração um pouco exaustiva de algumas músicas, sempre retornando ao mesmo ponto como em Wake me Up ou em Wise up Ghost acabam denegrindo a qualidade musical e cansando devido a sua repetição. Nada que atrapalhe a identificação com as melhores faixas do disco. Viceroy’s Row é excelente, um momento letárgico e extremamente romântico. O Hip Hop só é sentido de verdade em Stick Out Your Tongue pela sua batida que foge totalmente do que vimos até então: teclado em loop, scratches no vinil e uma guitarra que poderia muito bem ter vindo de algum sample.

No entanto, tudo parece muito quadrado e muito do que esperávamos da parceria. O groove está muito bem feito aqui, Elvis continua se mostrando um grande front man mas a falta dos Raps usuais do Roots ou uma simples experimentação maior poderiam trazer algo um pouco mais inovador ao disco. O Hip Hop poderia ser muito bem utilizado aqui, trazendo um maior escapismo das orquestrações em loop que apesar de letárgicas carecem de algo a mais em algumas faixas. Cinco Minutos Con Vos , no entanto, surge como este grande momento.

Na faixa, sopros em delay e uma produção que lembra muito a de grupos como Gothan Project e seu Tango eletrônico, trazem uma mistura maior aos grooves e a presença da cantora La Marisoul of La Santa Cecilia, de forma inesperada e em espanhol, fazem desta canção o que esperávamos de toda a obra como um todo, um exercício que soubesse lidar bem com as virtudes de cada um dos membros da parceria e que fugisse do usual. Ao final, Wise Up Ghost and Other Songs, não decepciona pelo seu conteúdo mas sim pelo que poderia ter sido criado dentro desta união tão celebrada. Sentimos que o The Roots poderia muito bem estar fazendo o papel de banda de fundo de uma apresentação de Costello no programa de Jimmy Fallon com versões grooveadas e funkeadas deste icônico artista. Tudo excelente e funcionando muito bem mas porque não tentar algo ainda mais brilhante e inovador?

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.