Há duas formas de analisar a estreia em disco de The Strypes, banda irlandesa de moleques oscilando entre 16 e 17 anos de idade, uma agradável e outra chata. Começando com a primeira.
Snapshot é um desses pequenos discos que funcionam sempre. A energia de The Strypes é praticamente palpável e as comparações com o início de carreira de Yardbirds, Beatles e Stones é inevitável. O ponto de partida é a encruzilhada entre Blues e Rock, a mesma que fez tanta gente de respeito seguir pelo proverbial mal caminho. Ross Farrelly, Josh McClorey, Pete O’Hanlon e Evan Walsh já podem se orgulhar de contar com gente ilustre entre seus fãs: Noel Gallagher, Arctic Monkeys, Dave Grohl, Jeff Beck e Elton John, que lhes ofereceu um contrato com seu selo Rocket. Além disso, a performance energética da banda no palco os levou a abrir a turnê de Arctic Monkeys, levando-os a uma audiência muito maior. Canções como She’s So Fine ou Angel Eyes trazem a dose certa de energia (na primeira) e feeling (na segunda), que fariam gente como Black Keys e Jack Black se encher de orgulho. Além disso, The Strypes mostram suas credenciais e conhecimento de causa com covers de Bo Diddley (You Can’t Judge a Book by the Cove) e Muddy Waters (Rollin’ & Tumblin) bastante satisfatórias. Indicado em boas doses para todos.
Agora vamos à maneira ranzinza. A modernidade produz um mecanismo estranho, o de potencial descrédito quando, em meio a um mundo com conectividade total, salvaguardas sociais de todo tipo, esfacelamento e substituição de valores sólidos por vínculos voláteis, uma banda irlandesa surge clamando legitimidade para seu disco de estreia, ancorado no Blues Rock dos anos 60. Claro que a geração de ouro de Beatles, Stones, Yardbirds era formada por moleques só um pouco mais velhos que The Strypes, gente que enchia a cara, que caíra na estrada, deixando pais e conforto para trás, chegando a passar fome em troca de mirrados merréis arrecadados em shows que podiam varar três horas de duração. Por conta de bandas como White Stripes e Black Keys, houve um processo de apropriação dessa sonoridade, devidamente nerdificada, em que há o abandono da espontaneidade em favor de um método quase laboratorial, que visa emular sons e tiques de produção típicos de outra época. Lembrem-se, estamos num mundo tecnológico e basta apertar um botão para sucessões de simulações surgirem.
De qualquer forma, por mais que tentemos duvidar, a estreia de The Strypes passa no teste. É possível notar que os moleques dão o sangue nas performance, têm noção do que estão fazendo ao imprimir energia (em canções como “She’s So Fine”, por exemplo) e feeling (em casos mais lentos, como Angel Eyes), além de coverizarem satisfatoriamente Bo Diddley (You Can’t Judge a Book by the Cover) e Muddy Waters (Rollin’ & Tumblin). No fim das contas, saber que modernetes e tradicionalistas como Noel Gallagher, Arctic Monkeys, Dave Grohl, Jeff Beck e Elton John engrossam as fileiras de fãs dos Strypes, é só um indicativo de que os sujeitos merecem toda a nossa atenção, até porque, a Irlanda sempre foi pródiga em termos de grupos de rock, de Them a Ash, passando por Thin Lizzy e U2.