Resenhas

Pearl Jam – Lightning Bolt

Mesmo com tanto tempo de carreira, grupo consegue manter o seu papel de relevância na música atual e serve de exemplo para os demais

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Ano: 2013
Selo: Monkeywrench, Republic
# Faixas: 12
Estilos: Rock, Grunge
Duração: 47:14
Nota: 4.0
Produção: Brendan O'Brien

Como se manter motivado no trabalho depois de tanto tempo diante das mesmas pessoas? O que te levaria a compartilhar grande parte da sua vida ao lado de colegas? Neste mundo praticamente irreal, os parceiros de ofício devem ser amigos e acima de tudo, competentes para que o seu empreendimento dê certo e continue cativando novos “consumidores”. A empresa bem-sucedida no caso é o Pearl Jam, banda que deixou o estigma do Grunge de lado e se tornou uma das maiores referências modernas do Rock.

Após mais de vinte anos de carreira, concorridíssimos shows em solos brasileiros, um inclusive realizado no Lollapalooza deste ano, o grupo apresenta o seu novo trabalho após quatro anos de turnês intensas. Lightning Bolt, sua décima aparição de estúdio, nos faz questionar como se renovar após tanto tempo e o que poderíamos esperar de novo de um grupo que já ofereceu tanto à música? A verdade é que o seu frontman, Eddie Vedder, figura extremamente carismática atualmente mas que já foi dono de uma das vozes mais raivosas de uma geração, parece ter influenciado bastante o desenvolvimento da obra.

É óbvio que a costumeira energia vistosa em composições rápidas e elaboradas não poderia ficar de fora, no entanto, o trabalho solo do vocalista mostra sinais claros de que a renovação começa na cadência do som da banda. Curiosamente, a distinção entre ambas sonorizações se dá a partir da faixa auto-explicativa, Pendulum. Nela, Eddie declama no meio de uma linha de piano orquestrada no meio da tensão: “I’m in the fire but I’m still cold nothing works works for me anymore”. No entanto, no meio desta indecisão surge uma das músicas mais bonitas construídas pela banda, intensificada em uma produção detalhista em sua letargia. O clima atmosférico e cinematográfico é uma referência direta à trilha sonora de Into the Wild e o último trabalho solo de Vedder,Ukele Songs.

Antes dessa ruptura, o Rock puro, criado sem uma caracterização a partir de rótulos aparece muito bem. A abertura, Getaway é o Pearl Jam em seus melhores momentos, em uma composição que facilmente cativaria o público em seus shows, mesmo que desconhecida. Mind your Manners é raivosa como a fase Vs do grupo, uma mistura de Grunge com levada Punk Rock direta, como os Ramones, grande referência de Eddie e companhia sempre tiveram. A faixa título é um dos momentos mais radiofônicos do álbum todo e parece ser construída para que seja o verdadeiro carro-chefe deste trabalho. Grandiosa, tem as viradas hipnóticas de voz que somente o vocalista consegue fazer com suas cordas, que mesmo após tanto anos de trabalho dedicado, parecem demorar para falhar.

My Father’s Son é nervosa em seu baixo pulsante e pode ser considerado o grande momento deste primeiro lado do LP. Sirens mostra o porquê destes músicos conseguirem abraçar tantos fãs no meio da raiva do movimento Grunge em uma balada com a indiscutível emoção e beleza do grupo. No entanto, apesar de nos depararmos com ótimas faixas, todas elas remetem aos momentos passados da banda. O lado B visto aqui, tem uma musicalidade fresca e que conscientiza com os últimos trabalhos de Eddie, demonstrando um gosto por momentos mais expansivos, criativos e serenos. Swallowed Whole está muito bem associada a uma viagem grandiosa enquanto Let The Records Play é um Blues Rock enérgico e dançante.

Sleeping By Myself é uma deliciosa balada praiera e traz um clima alegre ao disco. Yellow Moon lembra baladas como Oceans de Ten mas soa muito mais madura e só evidencia todas as qualidades de uma banda completa com músicos de verdade. É impossível não se emocionar com as levadas de bateria ou os solos bem encaixados aqui. Future Days parece ter sido deixada propositalmente para o final em uma canção que soa extremamente pessoal para Eddie, quase que somente acústica como seus trabalhos solo.

Mesmo após tanto tempo de estrada e trabalho, vemos que o Pearl Jam se mantém ainda ativo pelo prazer de se tocar entre amigos. A compreensão para tanto recriar vistosidades passadas como expandir-se para aventuras mais “velhas”, fazem de Lightning Bolt um ótimo disco em uma carreira com poucos baixos. Toda essa virtuosidade e impeto nos fazem imaginar o que teria acontecido se os grupos que surgiram em um dos maiores movimentos da história do Rock, o Grunge, tivessem continuado com seus integrantes vivos. Enquanto o Alice Chains e Soundgarden retornam com outras formações, o Nirvana é que permanece na curiosidade do inconsciente coletivo. Tocariam Rock, Jazz, Funk? Nunca saberemos, mas a realidade é que os aplausos ficam para o Pearl Jam, um verdadeiro sobrevivente na música atual.

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BOM PARA QUEM OUVE: Alice in Chains, Nirvana, The Who
ARTISTA: Pearl Jam
MARCADORES: Grunge, Ouça, Rock

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.