Resenhas

Oneohtrix Point Never – R Plus Seven

Mix de sentimentos causa certa confusão no novo disco, mas ainda sim se mostra interessante diante dessa bagunça

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Ano: 2013
Selo: Warp
# Faixas: 10
Estilos: Experimental, Eletrônico, Ambient Music
Duração: 42:56
Nota: 3.0
Produção: Daniel Lopatin, Paul Corley

Escolher a nota para uma obra é uma das tarefas mais difíceis que um crítico pode ter. O ato envolve uma série de fatores subjetivos como gosto pessoal, momento de vida, compreensão artística, entre outros. Abraça também o objetivismo. É inovador, aprazível, bem estruturado, apelativo? Toda essa gama se adéqua as palavras em uma resenha, e a partir disso surge o “valor de um disco”. Talvez o grande desafio do ofício venha da tentativa de entendimento de um artista, o que ele quer passar, por que fez tais escolhas? Posso garantir que , R Plus Seven é o trabalho mais difícil que tive a chance de avaliar no ano de 2013 e provavelmente ninguém ocupará tal posto.

Feito nos moldes dos famosos projetos de um homem só, e encabeçado pelo complexo Daniel Lopatin, Oneohtrix Point Never pode ser considerado uma obra de arte moderna. Você já se deparou com algum objeto em um museu que exigisse uma grande concentração e observação para seer, talvez, compreendido? É esta sensação que temos ao longo deste álbum e as conclusões que chegamos mostram-se extremamente polarizadas. Ou se ama ou se odeia R Plus Seven. Tal constatação se dá porque apesar do modernismo, estamos lidando com uma forma artística muito sensível ao excentrismo, a música, a qual deve, apesar de todas as inovações, ser interessante sobretudo aos ouvidos.

Partindo do pressuposto de que a música é nada mais é do que uma série de sons orquestrados, Daniel executa, sim tal arte. No entanto, como uma colcha de retalhos ou um espelho estilhaçado, as faixas aqui são extremamente quebradas, confusas e talvez sem muito sentido objetivo. A abertura em órgãos catedráticos de Boring Angel dá a falsa impressão do que virá daqui pra frente em um dos poucos momentos que conseguimos enxergar a ordem das ideias do músico. A partir de Americans somos jogados para um conjunto de excertos sonoros fragmentados que em alguns instantes são interessantes e em outros extremamente chatos.

He She, por exemplo, é lenta e construída em uma cítara japonesa. Sua levada é cansativa e as vozes cortadas, “loopadas” só impressionam pelo cuidado e precisões milimétricos que se tornam efêmeros diante de sua curta duração. No sentido de vanguarda artística, ninguém realiza comercialmente, músicas como Lopatin e isso realmente chama atenção. Inside World é futurista e assustadora em alguns momentos, e poderia muito bem estar em uma trilha sonora de algum filme de ficção científica. Os sintetizadores arpegiados de Zebra tentam se comportar como os padrões de pele do famoso animal africano, não são constantes e parecem deslizar entre um ouvido e outro quando escutados com um headphone e é uma das poucas faixas que podem ser consideradas “normais”.

A volatilidade dentro de cada faixa, reverbera para a estrutura do disco, algo extremamente prejudicial para o seu andamento. O filme A Origem é uma boa analogia ao que sentimos aqui. A cada instante pensamos que estamos diante do final ou de um despertar mas a música seguinte acaba nos transportando para lugares totalmente diferentes. O uso de sons não convencionais como ruídos de objetos, nos leva crer que Daniel é acima de tudo um sonoplasta, alguém que tenta se comunicar pelos sons. Problem Areas é progressiva ao extremo enquanto Cryo diminui o volume para finalmente conseguir acalmar o espírito do ouvinte que se sente confuso e nauseado diante de tanta exposição.

Ao final, como julgar tal obra? Se considerada toda execução, inovação e qualidade do músico, estamos diante de um trabalho extremamente único em sua complexidade. Como expressão artística que se utiliza de sons, R Plus Seven é denso e difícil. No entanto, ao analisarmos como o público reagirá diante da audição do disco, se realmente irá conseguir cativar as pessoas através da música, concluímos que estamos diante de uma obra “cabeçuda” e para poucos. Sinceramente, você não se sentirá feliz ao escutar e dificilmente irá apreciar o que lhe é mostrado aqui. Diante de tanta confusão, a verdade é que Daniel não se preocupa com o que os outros vão achar e realiza um álbum extremamente pessoal. Artisticamente, vemos algo louvável e inovador mas para os ouvidos e a alma, uma experiência que deve ser enfrentada mas que provavelmente será única em todas os sentidos.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.