Resenhas

Feed Me – Calamari Tuesday

Feed Me abandona o roteiro e faz uma viagem de referências distintas no Electro, Dubstep, Trap, French Electro e Hip Hop

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Ano: 2013
Selo: Sotto Voce
# Faixas: 15
Estilos: French Electro, Dubstep, Trap
Duração: 73"15
Nota: 3.5
Produção: Jon Gooch

De dois anos pra cá, Feed Me vem firmando seu nome na cena Electro/Dubstep cada vez mais forte. Em turnê pesada nos últimos anos e pesado trabalho em cima de faixas, o produtor chegou até a anunciar um hiato esse ano da profissão de DJ e focar em outros projetos. De qualquer forma, depois do lançamento de um EP no início do ano, o britânico lança agora Calamari Tuesday, sem nenhuma explicação quanto ao nome, mas que rendeu uma brincadeira bem humorada para enganar os fãs curiosos que perguntavam a origem do título em sua página do Facebook.

A obra tem quinze faixas e se perpetua como uma produção EDM bastante flexível. O longo tempo (álbuns do estilo não costumam se extender dessa forma) é justificado pela miscelânea de gêneros contidas no álbum. Calamari Tuesday passeia pelo Electro, French Electro, Trap, Rap, Electrohouse, Dubstep, ou seja, a cultura Bass sendo bem representada por Jon Gooch. E não só variedade de uma música para a outra, como também uma viagem individual de cada faixa com doses de referências distintas. Feed Me não parece preocupado com um roteiro ou coerência entre as produções, apenas um cuidado bastante minucioso sobre que é criado, caminhando por territórios sem nenhum compromisso com gênero, identidade ou crítica. Isso traz uma segurança para Calamari Tuesday que poucos álbuns desse ano souberam aproveitar.

Tudo segue como experimentações e soa como prova da habilidade em estilos distintos que poucos produtores têm. Pra quem não lembra, o produtor passou pelo Brasil esse ano no Lollapalooza e chamou atenção justamente pela variedade do set em meio a tanta “cabeça dura”. Esse é o segredo nos mais de 70 minutos do trabalho.

Orion inicia com majestade o que vem a seguir no álbum, com sintetizadores um drop na estrutura marcada do Techno e com sintetizadores do Dubstep. Death By Robot e Lonely Montain iniciam lentas mas, enquanto a primeira progride lentamente para um Electro que lembra muito o que já é feito por Justice ou uma peça antiga do Daft Punk, a segunda dá espaço a uma intro EDM digna de festival. No decorrer da faixa, solos de guitarra entram e fazem um trabalho fenomenal na força que a música representa. Mais uma vez o French Electro trazendo excelência na produção. Dazed distoa e percorre caminho chill de um House leve sem muita pretensão. In the Bin com estrutura em Hip Hop com sintetizadores do Dubstep conta com vocais em rimas de Rap.

O álbum cai sim em monotonia em detemrinado momento o que causa bastante distração. Chinchilla e Fiasco são fórmulas batidas de Electro, cansativas, só perceptivas em seus finais quando dão espaço para Love is All I Got. A faixa, em parceria com Crystal Fighters, sai do comum e traz uma veia mais Pop para o produtor. O que é muito interessante pela ousadia de trazer uma proposta dessa em meio a tanto hit de pista. E aí começa uma reação em cadeia. Short Skirt e No Grip vêm com cortes de vocais o que dinamiza bastante as faixas, trazem um tom único e vem para subir o pódio das melhores de todo Calamari.

Feed Me concentra suas produções entre fontes do que já vimos Daft Punk, Justice, Madeon e DJs de Dubstep fazerem. Inclusive o perfeccionismo na técnica, o que traz uma certa singularidade à obra. Jon vem com uma proposta diferente desses outros nomes que citei. Enquanto os maiores sempre procuram os maiores para trocar “figurinha” e empacar juntos, em Calamari se tem o caminho inverso, e as parcerias são com nomes fora da cena como Baxter e Crystal Fighters já citados e também Jenna G, que traz o desfecho, com Last Requests. Também com apelo comercial, Gooch surpreende com os “últimos pedidos” sendo feitos como gente grande.

Como um portfólio ou a escolha de um álbum extenso, Feed Me escolheu a ordem bem. Particularmente, algumas faixas poderiam ter ficado de fora, trariam um conceito mais fechado para Calamari Tuesday. Mas como a decisão foi essa, inteligente da parte de surpreender no início e fim. Como uma obra humana, não é perfeita, tem seus defeitos, mas sua grandiosidade existe e é grande. Técnica, ousadia de dar atenção em detalhes (que fazem toda diferença), flexibilidade e habilidade em hibridizar estilos. Feed Me é só um dos alter-egos do produtor e vem bem a calhar. Não é nota máxima, mas mantém seu nome na lista de produtores que merecem atenção.

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BOM PARA QUEM OUVE: Alvin Risk, Madeon, Justice
ARTISTA: Feed Me

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King