Resenhas

Juana Molina – Wed.21

Trocando a preferência por experimentalismos por uma abordagem mais melódica, novo disco da cantora surpreende na proposta

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Ano: 2013
Selo: Crammed Discs
# Faixas: 12
Estilos: Experimental, Eletrônica
Duração: 53:12
Nota: 3.5
Produção: Juana Molina

A atriz e cantora argentina Juana Molina é o que poderíamos chamar de uma “avis rara”. Seu trabalho oscila entre a comédia – quando está atuando – e a mais pura e requintada experimentação na mistura entre Eletrônica, Folk e música latina. É como se Beth Orton, grande cantora menor do fim dos anos 90/00 fosse acometida do vírus benéfico da curiosidade musical. Assim é Juana.

O maior problema de sua música, obviamente muito mais conhecida fora da América do Sul, é que a experimentação quase sempre vencia a melodia, tornando complicada a audição de seus discos em algumas ocasiões. Com seu sexto trabalho, Wed.21, o panorama mudou sensivelmente. Ao adicionar guitarra, baixo, bateria e manter o nível de talento no uso do violão e das texturas eletrônicas, Juana conseguiu dinamizar seu som sem abrir mão de sua estranheza tão peculiar. Ecos de levadas Folk, esboços de melodia, timbres estranhos e diáfanos dão a impressão de que Wed.21 é uma grande aquarela de sons, devidamente borrados por uma água que realça ao invés de diluir ou prejudicar.

A faixa de abertura, Eras, traz vocais inquietantes e repetitivos, dando a impressão de uma caminhada em círculos, algo que é desfeito a partir do momento em que se observa sutilezas e detalhes, que, na verdade, estão em todos os cantos do disco, mantendo o conceito de “nuvem sonora”, que foi usado uma vez para definir sua sonoridade pelo jornal New York Times. Outros exemplos pipocam por toda parte em Wed.21: o aparente caos de El Oso De La Guarda, o comichão ritmico de Lo Decidi Yo, o vocais etéreos de Sin Guia , a percussão exuberante em “Ay, No Se Ofendan” e a simplicidade emocionante de “Final Feliz”, dando a noção de que a música que Juana faz vem de um lugar comum a muitas culturas e idiomas, tornando possível a apreciação das canções por meio de algo relativamente atávico em nós. Juana toca em lugares como Inglaterra, Alemanha, França, Suiça, República Tcheca, Espanha, Portugal, China e Japão entre o mês de novembro e o início de dezembro deste ano. O mundo a está ouvindo. Atentamente.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.