Resenhas

São Paulo Underground – Beija Flors Velho e Sujo

Novo disco do grupo de Jazz experimental é excelente e deve ser usado como referência à futuros músicos que queiram se comunicar verdadeiramente com a arte

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Ano: 2013
Selo: Cuneiform Records
# Faixas: 10
Estilos: Jazz Fusion, Jazz
Duração: 39:00
Nota: 4.0
Produção: São Paulo Underground

Como é bom escutar o experimentalismo e o Jazz no Brasil. Genêro popularizado em outras décadas mas que nunca morreu e somente se reinventou, esta gênese da música negra é quase um contato espiritual entre arte e ouvinte. Transparece estados e sentimentos podendo ser considerado um grande modo de vida. No seu auge, o estilo era inventivo, sem limites e acima de tudo psicodélico, algo muito bem representado no excelente quarto disco do São Paulo Underground.

Um pouco mais acessível que trabalhos anteriores mas ainda assim extremamente autoral, Beija Flors Velho e Sujo é a retomada do grupo ao formato de trio. Tal escolha de certa forma diminui o leque de possibilidades mas ao mesmo tempo construí uma união que pode ser muito bem percebida no som criado aqui. Mauricio Takara na bateria comanda ritmos quebrados e levadas muitas vezes pesadas enquanto Guilherme Granado experimenta a música eletrônica e elétrica e Rob Mazurek se joga no ar expelido pelo seu trompete.

Aliás como qualquer banda de Jazz, um instrumento é sempre escolhido como o maestro da música, nesse caso o trompete. Tudo isso poder ser sentido nas belíssimas canções iniciais Ol’ Dirty Hummingbird, delicioso Bebop típico da década de 1950 e Into The Rising Sun, faixa crescente e aberta. No entanto, o experimentalismo típico do gênero surge sob diferentes aspectos mas principalmente através da instrumentação de Granado.

Por vezes ela surge sintética para pegar o vácuo deixado pelo ar de Mazurek como na densa Six-Handed Casio e em outras mais elétrica como na guitarra swingada de Basílio’s Crazy Wedding Song. Esta faixa aliás, tem toques bem praianos e brasileiros, como se Miles Davis pegasse um sol as vezes por aqui, e fazem da cor proposta pelo músico uma escolha com muito frescor e modernidade ao Jazz feito aqui.

Quando o eletrônico e o elétrico coincidem, Arnus Nusar surge, momento épico de sete minutos e grande destaque no disco. Chega a ser curioso citar o Pop no meio do trabalho, dentro do escopo de um projeto que sempre tentou ser o mais pluralista e experimental possível, algo que a cidade do título do grupo sempre fez mas existem sim momentos um pouco mais acessíveis à aqueles desacostumados com levadas diferentes e falta de um esqueleto linear. Evetch é o puro samba disponível do trabalho e pode ser considerada uma marchinha perfeita para o carnaval que se aproxima. Unindo influências externas mas ao mesmo tempo se preocupando com a cadência e malemolência do povo tupiniquim, a faixa é um convite a dança e esbórnia.

A volta ao trio fez bem ao grupo que agora procura se aproximar mais nas composições e os levando a “mesma página”. Sem se tornar excessivo ou cliché e sempre procurando a inventividade em primeiro lugar, São Paulo Underground soa mais acessível mesmo sempre sendo puro Jazz: sem compromisso ou estrutura, somente feeling. Como explicar a transição em Taking Back The Sea Is No Easy Talk, faixa que começa com uma levada quase Hip Hop e parte para o sentimento do trompete, acabando em um quebra de ritmo e volume com quase só percussão e ruídos? Isso é música e Jazz, ritmo que sempre se propôs muito mais a entender o que seus músicos queriam do que o público. Logo, Beija Flors Velho e Sujo se torna uma celebração à música esquecida e melhor ainda, uma grande festa sendo feita no Brasil, criando a verdeira conexão entre a Chicago de Rob e a São Paulo de Takara e Granado.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.