Resenhas

Rio Shock – Rio Shock EP

Disclosure com vocais do Funk Carioca? Esse é o Rio Shock que mistura os anos 90 com o Rio de Janeiro em seu EP de estreia

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Ano: 2013
# Faixas: 4
Estilos: Deep Baile, Deep House, Future Garage
Duração: 14"07'
Nota: 4.0
Produção: João Brasil
SoundCloud: https://soundcloud.com/urbe/rio-shock-moleque-transante

Falamos esses dias sobre um dos gêneros que estourou em 2013 após dois anos de muita insistência de alguns nomes bastante conhecidos da cena eletrônica mundial recente. O Future Garage consolidou músicas de artistas como Disclosure, AlunaGeorge, SBTRKT, entre outros, e variou um pouco do EDM típico do som comercial que acontecia em festivais. Hoje, o público já se preocupa mais com conceito e contexto do que ouvem, o “Brit Hop” entra nisso e traz consigo referências noventistas do eletrônico, lá do UK Garage de Londres, e hibridiza com vocais Pop que cairam no gosto dos amantes de música.

Por que não aproveitar isso? João Brasil – que também já falamos aqui no Monkeybuzz sobre sua arte de fazer Mashups – não perdeu tempo e lançou um projeto que une duas coisas que sabe fazer muito bem: técnica de produção e veia brasileira. No caso do Rio Shock, a estrutura de suas quatro faixas são no Future Garage recheadas por vocais do Funk Carioca. Nada muito “esculachado”, a proposta obedece o contexto: assim como o início do gênero, o Funk aqui é melódico e obedece os limites das letras para menores de 18 anos também.

O resultado é absurdamente agradável. Rio Shock EP parece ter nascido da mesma barriga que Disclosure, mas com berço no morro. Quebrete abre o EP e já nada em referências do próprio povo da favela. Não só nessa faixa, mas em todo o trabalho tem gírias que são comuns aos ouvidos de artistas (e moradores) dali. O BPM mais suave, em relação às outras produções de João Brasil, é ponto forte e diferencial do Rio Shock. O apelo sexual (e sensual) vem em todas as faixas e procura trazer um pouco da realidade do Rio de Janeiro como diz a letra de Sensualizar. A base vem muito parecida com Show me Love do trio sueco Swedish House Mafia inclusive dando margem ao ímpeto de misturar do carioca.

A percussão tem papel fundamental nas músicas, ainda mais no primeiro single do RS, Moleque Transante. Júnior Teixeira, do Monobloco, é o responsável pelo corpo das faixas. E a voz que encanta e dá malemolência que estamos habituados a ouvir de Sam Smith ou até de Dani Caldellas, vem da Dannie, indicação de Mãozinha, produtor musical da Anitta. A cantora tem o swing dos bailes Funk e a coragem de quem já segurou plateias como a do Réveillon de Copacabana. A música teve cenas de seu clipe gravados dia 24 de outubro na praia do Arpoador e, em breve, já vai ter material finalizado. Já imaginou aquele Deep com o Morro Dois Irmãos de cenário?

Rio Shock vem pelo oportunismo de exportar ainda mais música brasileira pra fora. Pegou um estilo predominante e o imergiu na mágica brasileira que tanto envolve e encanta gringos. O som, em si, não é inovador. A fórmula é muito usada por grandes produtores da cena londrina e João apenas quis reaplicar com um pouco mais de tempero brasileiro. Voltou de Londres com a ambição de formar banda o que tanto carecia em suas gigs solo. A industria consome mais materiais de projetos, por conta disso talvez que cada vez mais produtores buscam por cantores escreverem em cima de suas bases. Acontece com Jamie XX, George Reid e vai continuar acontecendo enquanto a ambição for maior que a liberdade de produção. Mas, conhecendo João como conhecemos, dificilmente isso teria somente essa intenção egoísta. Não é novidade, mas também é despretensioso. Vem pela diversão, vem pela vontade ainda maior de fazer com que conheçam a riqueza que o Brasil tem e não mostra. Provar que é possível um projeto de música eletrônica nascer em terras tupiniquins e ainda impressionar.

João, Júnior, Dannie e MC Sabará já se apresentaram na FODASSE, no primeiro live do que eles chamam sabiamente de Deep Baile. Todo o EP foi produzido na Alemanha e posteriormente já aprovado pela Som Livre. Se os brasileiros vão comprar a ideia, é difícil prever por agora, mas com certeza os frutos já começaram pela Inglaterra. Rio Shock é só uma das várias facetas talentosíssimas de João Brasil e serve como um tapa na cara de quem previa que o produtor era só sortudo no Funk. E que seja um tapa bem dado. Aqui o Baile Funk só representa suas raízes, suas influências, sua história. Isso bem acoplado a um som “do futuro”. O contexto vem do som dos anos 90, mas o “Shock” é de hoje pra amanhã. Vanguardista assim como João Brasil.

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Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King