“Quando eu era um homem mais jovem, achava que a dor da derrota duraria para sempre, mas agora eu não sei o que seria preciso para fazer meu coração recuar”. É assim, esbanjando maturidade, que M. Ward abre seu oitavo disco, o conciso e complexo A Wasteland Companion.
A faixa em questão é Clean Slate, trilhada nos violões com um baixo discreto e fazendo jus ao destaque do músico no meio Folk. A seguinte, Primitive Girl, começa a variação de som presente ao longo do álbum com uma baladinha animada à la Indie Pop, com piano e a sensação de que Zooey Deschanel, dupla do músico na She & Him, vai aparecer a qualquer momento – o que de fato acontece duas faixas depois, em Sweetheart.
A presença da cantora/atriz traz a lembrança do projeto que os dois tem juntos e nos ajuda a entender a figura eclética de um músico que não tem medo de se arriscar e transitar entre estilos. A pegada dark nos vocais processados e guitarras pesadas de Me and My Shadow (também com backing vocals de Zooey) também argumenta a favor da inventividade de Ward. Isso se repete um pouco em Watch the Show, que tem um pé no Blues Rock com sua bateria bem demarcada.
Para quem só o conhece no seu trabalho solo mais voz-e-violão ou no supergrupo Monsters of Folk, pode parecer estranho pensar em “bateria bem demarcada” em uma de suas músicas, mas é isso também o que acontece em I Get Ideas, com uma vibe de Rock’n’Roll clássico, dançante e leve.
Ainda assim, com tantas transições, é nas composições Folk que Ward mostra sua maestria. Canções como The First Time I Ran Away, Crawl After You e a bela faixa-título se desenvolvem dentro do gênero e, por menos que às vezes tragam muita originalidade, conseguem fazer bonito e cumprir sua proposta emocional e contemplativa.
Pure Joy fecha o disco – que tem pouco mais de 35 minutos de duração – amarrando bem as duas pontas ao praticamente emendar seus últimos acordes nos primeiros da faixa de abertura, o que torna o álbum perfeito para se ouvir no repeat. Tanto isso quanto a canção There’s a Key falar sobre as teclas de um piano enquanto é toda dedilhada no violão faz pensar que M. Ward pode ter feito músicas sobre diversos temas em vários estilos, mas acabou fazendo uma obra sobre a própria música, traçando um panorama sobre sua maneira de compor e interpretar.